terça-feira, 11 de junho de 2019

Platão e a dicotomia do pensamento filosófico


Platão e a dicotomia do pensamento filosófico
Muito bem pretendentes a filósofos, vamos fazer nossos pensamentos darem um passo adiante da própria inteligência. Falemos de Platão. Como tantos outros da sua época queria dar respostas definitivas sobre os problemas do conhecimento da verdade e da vida.
Seu primeiro momento filosófico era superar ou resinificar as ideias já existentes e consagradas da sua época. Ele tinha por pretensão, entre muitas coisas, superar as ideias de Heráclito sobre à mutabilidade essencial do ser (as coisas são o que são por estarem em mutação, sua identidade está na transformação, como o rio que é rio exatamente porque está em constante mudança e transformação, um rio parado não é um rio, também cada um de nós só é o que é hoje porque deixou de ser o que era ontem). Ele tem também como meta superar as ideias de Parmênides, para qual o ser é imóvel (há uma essência no ser que não pode se transformar porque faria o ser perder sua essência identidade, o rio por mais que tenha águas em movimento tem uma essência identitária para todos que o contemplam e o vem aparentemente como sempre o mesmo). Ele relaciona esses dois conceitos, realidade em transformação com realidade em permanência para construir sua teoria das ideias que é também descrita como mundo sensível e mundo inteligível. 
O mundo inteligível (Parmênides) é o mundo da alma onde as coisas são o que são. Onde as coisas são ideias projetadas na alma e pela alma sendo elas exatamente o que elas são. No mundo inteligível a ideia de cadeira, banana, quiabo corresponde exatamente a ideia que se tem de cadeira banana e quiabo. Não há variação falha ou dúvida. A realidade é uma intelecção conceitual das coisas. Uma ideia ideal que corresponde exatamente a ideia pensada ou obtida. É o mundo perfeito da luz, da verdade, da alma, do divino.
A outra realidade é o  mundo sensível (Heráclito), que é o mundo material, mundo percebido pelo corpo e seus sentidos, mundo que fica condicionado aos sentidos e suas possiblidades de conhecer a realidade. Como a realidade está sempre mudando, qualquer coisa material deixada por si se transformará, e o corpo que a percebe também está mudando em si e em sua capacidade de percepção, também a cadeira, banana ou quiabo são a percepção que se tem deles e não eles neles mesmos. Sua existência material não consegue corresponder às ideias que se pode ter dos mesmos. O mundo sensível é o mundo dos sentidos e suas possiblidades. O mundo humano das sombras (por ser uma sombra do real) da relatividade das verdades do corpo e suas limitações. 
Assim, sair da caverna (ser livre e ser filósofo) é trocar uma existência pautada pelos sentidos (corpo) por uma vida pautada pelo mundo inteligível (alma) e suas ilimitadas possibilidades de construção de saber e transformação do mundo. Trazendo para o provisório a eternidade das verdades existentes na perfectibilidade existente na alma de todo ser, ao que Sócrates chamou de maiêutica. Tornando a vida uma constante existência na essência do próprio ser (alma) enquanto esse ser é transformado (sensível) em sua materialidade, tal qual o rio que não para de correr e nunca é o mesmo, mas que tem uma essência de rio que sempre que o vemos o contemplamos como o mesmo.
Platão fará desse conceito seu norte intelectivo e ele será o conceito que usará para construir sua filosofia, por meio do personagem Sócrates, que refletirá sobre as principais questões filosóficas e humanas de seu tempo.
A Ética, a política, a religião, o trabalho e a própria existência humana serão refletidos a partir desse viés filosófico dicotômico.