Platão
e a dicotomia do pensamento filosófico
Muito bem
pretendentes a filósofos, vamos fazer nossos pensamentos darem um passo adiante
da própria inteligência. Falemos de Platão. Como tantos outros da sua época
queria dar respostas definitivas sobre os problemas do conhecimento da verdade
e da vida.
Seu primeiro
momento filosófico era superar ou resinificar as ideias já existentes e
consagradas da sua época. Ele tinha por pretensão, entre muitas coisas, superar
as ideias de Heráclito sobre à mutabilidade essencial do ser (as coisas são o que
são por estarem em mutação, sua identidade está na transformação, como o rio
que é rio exatamente porque está em constante mudança e transformação, um rio
parado não é um rio, também cada um de nós só é o que é hoje porque deixou de
ser o que era ontem). Ele tem também como meta superar as ideias de Parmênides,
para qual o ser é imóvel (há uma essência no ser que não pode se transformar
porque faria o ser perder sua essência identidade, o rio por mais que tenha
águas em movimento tem uma essência identitária para todos que o contemplam e o
vem aparentemente como sempre o mesmo). Ele relaciona esses dois conceitos,
realidade em transformação com realidade em permanência para construir sua teoria
das ideias que é também descrita como mundo sensível e mundo inteligível.
O mundo
inteligível (Parmênides) é o mundo da alma onde as coisas são o que são. Onde
as coisas são ideias projetadas na alma e pela alma sendo elas exatamente o que
elas são. No mundo inteligível a ideia de cadeira, banana, quiabo corresponde
exatamente a ideia que se tem de cadeira banana e quiabo. Não há variação falha
ou dúvida. A realidade é uma intelecção conceitual das coisas. Uma ideia ideal
que corresponde exatamente a ideia pensada ou obtida. É o mundo perfeito da luz,
da verdade, da alma, do divino.
A outra
realidade é o mundo sensível (Heráclito),
que é o mundo material, mundo percebido pelo corpo e seus sentidos, mundo que
fica condicionado aos sentidos e suas possiblidades de conhecer a realidade.
Como a realidade está sempre mudando, qualquer coisa material deixada por si se
transformará, e o corpo que a percebe também está mudando em si e em sua
capacidade de percepção, também a cadeira, banana ou quiabo são a percepção que
se tem deles e não eles neles mesmos. Sua existência material não consegue
corresponder às ideias que se pode ter dos mesmos. O mundo sensível é o mundo
dos sentidos e suas possiblidades. O mundo humano das sombras (por ser uma
sombra do real) da relatividade das verdades do corpo e suas limitações.
Assim, sair
da caverna (ser livre e ser filósofo) é trocar uma existência pautada pelos
sentidos (corpo) por uma vida pautada pelo mundo inteligível (alma) e suas
ilimitadas possibilidades de construção de saber e transformação do mundo.
Trazendo para o provisório a eternidade das verdades existentes na
perfectibilidade existente na alma de todo ser, ao que Sócrates chamou de maiêutica.
Tornando a vida uma constante existência na essência do próprio ser (alma)
enquanto esse ser é transformado (sensível) em sua materialidade, tal qual o rio
que não para de correr e nunca é o mesmo, mas que tem uma essência de rio que
sempre que o vemos o contemplamos como o mesmo.
Platão fará
desse conceito seu norte intelectivo e ele será o conceito que usará para
construir sua filosofia, por meio do personagem Sócrates, que refletirá sobre
as principais questões filosóficas e humanas de seu tempo.
A Ética, a
política, a religião, o trabalho e a própria existência humana serão refletidos
a partir desse viés filosófico dicotômico.
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