Por Marilena Chauí – O Convite a Filosofia
A alienação se exprime numa “teoria” do
conhecimento espontânea, formando o senso comum da sociedade. Por seu
intermédio, são imaginadas explicações e justificativas para a realidade tal
como é diretamente percebida e vivida. Um exemplo desse senso comum aparece no
caso da “explicação” da pobreza, em que o pobre é pobre por sua própria culpa (preguiça,
ignorância) ou por vontade divina ou por inferioridade natural. Esse senso
comum social, na verdade, é o resultado de uma elaboração intelectual sobre a
realidade, feita pelos pensadores ou intelectuais da sociedade – sacerdotes,
filósofos, cientistas, professores, escritores, jornalistas, artistas -, que
descrevem e explicam o mundo a partir do ponto de vista da classe a que
pertencem e que é a classe dominante de uma sociedade. Essa elaboração
intelectual incorporada pelo senso comum social é a ideologia. Por meio dela, o
ponto de vista, as opiniões e as ideias de uma das classes sociais – a dominante
e dirigente – tornam-se o ponto de vista e a opinião de todas as classes e de
toda a sociedade. A função principal da ideologia é ocultar e dissimular as
divisões sociais e políticas, dar-lhes a aparência de indivisão e de diferenças
naturais entre os seres humanos. Indivisão: apesar da divisão social das
classes, somos levados a crer que somos todos iguais porque participamos da
ideia de “humanidade”, ou da ideia de “nação” e “pátria”, ou da ideia de
“raça”, etc. Diferenças naturais: somos levados a crer que as desigualdades
sociais, econômicas e políticas não são produzidas pela divisão social das
classes, mas por diferenças individuais dos talentos e das capacidades, da
inteligência, da força de vontade maior ou menor, etc. A produção ideológica da
ilusão social tem como finalidade fazer com que todas as classes sociais aceitem
as condições em que vivem, julgando-as naturais, normais, corretas, justas, sem
pretender transformá-las ou conhecê-las realmente, sem levar em conta que há
uma contradição profunda entre as condições reais em que vivemos e as ideias.
A
produção ideológica da ilusão social tem como finalidade fazer com que todas as
classes sociais aceitem as condições em que vivem, julgando-as naturais,
normais, corretas, justas, sem pretender transformá-las ou conhecê-las
realmente, sem levar em conta que há uma contradição profunda entre as condições
reais em que vivemos e as ideias. Por exemplo, a ideologia afirma que somos
todos cidadãos e, portanto, temos todos os mesmos direitos sociais, econômicos,
políticos e culturais. No entanto, sabemos que isso não acontece de fato: as
crianças de ruas não tem direitos; os idosos não tem direito; os direitos
culturais das crianças nas escolas publicas é inferior aos das crianças que
estão em escolas particulares, pois o ensino não é de mesma qualidade em ambas;
os negros e índios são discriminados como inferiores; os homossexuais são perseguidos
como pervertidos etc. A maioria, porém, acredita que o fato de ser eleitor,
pagar as dividas e contribuir com os impostos já nos faz cidadãos, sem
considerar as condições concretas que fazem alguns serem mais cidadãos do que
outros. A função da ideologia é impedir nos de pensar nessas coisas. (CHAUÍ,
2011, p. 176).
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