sexta-feira, 22 de abril de 2016

Uma Ética Complexa

Uma Ética Complexa
Por Edgar Morin
(...) Eis, portanto, uma sem outro fundamento senão ela mesma, mas que precisa de apoios exteriores a ela mesma: precisa se alimentar de uma fé, apoiar-se em uma antropologia e conhecer condições e situações em que é praticada. É uma ética da compreensão. É uma ética que não impõe uma visão maniqueísta do mundo. É uma ética sem salvação, sem promessa. É uma ética da comunidade de perdição. É uma ética que encontra em seu seio sempre a incerteza e a contradição. É uma ética do desafio. É uma ética que nos reclama exigência conosco e indulgência com o outro, e não o inverso.
Na auto ética, a consciência moral necessita, por um lado, de uma fé ou de uma mística que a inspirem, por outro, o exercício permanente de uma consciência esclarecedora. A moral é uma iluminação que precisa ser iluminada pela inteligência, e  a inteligência é uma iluminação que precisa ser iluminada pela moral. Dai o sentido da frase da frase de Pascal, “trabalhar para bem pensar, eis o principio da mora”. A ética deve mobilizar a inteligência para enfrentar a complexidade da vida, do mundo e da própria ética.

Assim, não é uma norma arrogante nem um evangelho melodioso o que anuncia a auto ética que faço minha: é o enfrentamento da dificuldade de pensar e viver. O sentido que lhe darei, finalmente, se for preciso um termo que possa englobar todos os seus aspectos, é a resistência à crueldade do mundo.

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