Uma Ética
Complexa
Por Edgar
Morin
(...) Eis,
portanto, uma sem outro fundamento senão ela mesma, mas que precisa de apoios
exteriores a ela mesma: precisa se alimentar de uma fé, apoiar-se em uma
antropologia e conhecer condições e situações em que é praticada. É uma ética
da compreensão. É uma ética que não impõe uma visão maniqueísta do mundo. É uma
ética sem salvação, sem promessa. É uma ética da comunidade de perdição. É uma
ética que encontra em seu seio sempre a incerteza e a contradição. É uma ética
do desafio. É uma ética que nos reclama exigência conosco e indulgência com o
outro, e não o inverso.
Na auto ética,
a consciência moral necessita, por um lado, de uma fé ou de uma mística que a
inspirem, por outro, o exercício permanente de uma consciência esclarecedora. A
moral é uma iluminação que precisa ser iluminada pela inteligência, e a inteligência é uma iluminação que precisa
ser iluminada pela moral. Dai o sentido da frase da frase de Pascal, “trabalhar
para bem pensar, eis o principio da mora”. A ética deve mobilizar a inteligência
para enfrentar a complexidade da vida, do mundo e da própria ética.
Assim, não é
uma norma arrogante nem um evangelho melodioso o que anuncia a auto ética que
faço minha: é o enfrentamento da dificuldade de pensar e viver. O sentido que
lhe darei, finalmente, se for preciso um termo que possa englobar todos os seus
aspectos, é a resistência à crueldade do
mundo.
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