Política:
a Arte e Ciência de Governar
As relações sociais são permeadas
de tantas ideias, valores, sentimentos oriundos das formações sociais que
obtivemos e que nos foram impostas (família, escola), que tendemos a considerar
todas as coisas como naturais, com a imperante sensação de que sempre foi assim
e de que assim o continuará. Contudo, todavia, no entanto, porém, é nosso
papel/dever/obrigação de questionarmo-nos se não poderia ou deveria ser
diferente.
A Política é discussão antiga
que, como veremos, permeia as relações humanas e que por isso mesmo precisa ser
pensada e entendida como uma construção histórica propositada e propositora
(Maquiavel). Desde cedo somos ensinados na arte e ciência de sermos governados
por todos aqueles que nos amam e nos cuidam. Aos quais em troca respondemos em
respeito e obediência para uma melhor realização dos propósitos sociais já
planejados ao nosso respeito. Voltaremos a essa perspectiva, formativo pessoal,
de uma consciência política à frente.
Política é a habilidade pessoal
ou organizacional no relacionar-se com os outros, tendo se em perspectiva a
obtenção dos resultados desejados. Olhando o processo político de forma direta
é preciso que entendamos o mesmo como um processo de luta de interesses diretos
ou não tão diretos, onde se objetiva um bem qualquer em troca de outro bem ou
outros bens quaisquer, ainda que esses não sejam materiais ou sejam somente
abstratamente quantificáveis. De qualquer modo a omissão ou ignorância política
provoca uma incompetência política para participar do jogo político que é o
viver. E aqui podemos pontuar a primeira desmitologização ideológica social,
que é a de que política é para políticos, e que se concentra em Brasília, no
caso do Brasil. Oras, política é um exercício relacional continuo entre pais,
filhos, irmãos, amigos, namorados, amantes. Teriam todos esses os mesmos
interesses sempre? Assim, é na convivência e disputa de desejos, vontades,
interesses, sonhos e tudo o mais, que vai se construindo nossos
relacionamentos, e é na realização plena ou parcial dos mesmos que se mantém,
aprofunda ou abrevia a prática político relacional. Claro que podemos chamar de
amor – empatia, comprometimento, bem querer – não há problemas nisso; contudo,
falando de prática sócio relacional política, Nicolau Maquiavel dirá que: “O
homem é um ser desejante, que busca incessantemente o que não tem, o que lhe
faz falta”.
Nos regimes democráticos a
ciência política é a atividade dos cidadãos que se ocupam dos assuntos públicos
atuando nos mesmos (legislativo, executivo e judiciário), ou militando a
respeito dos mesmos em busca de melhores atuações públicas ou ainda exercendo o
direito/obrigação da escolha da melhor alternativa política para o
gerenciamento do poder público que direta ou indiretamente envolve a todos. A
partir daqui é preciso ficar claro que a política é de uma importância vital
para definir a quantidade de açúcar que você poderá utilizar no seu café, e
mesmo que seja exagero da minha parte, pare e pense, quanto que uma crise
política afeta a economia e uma crise econômica afeta sua vida? A presença da
política está muito além da economia, ela envolve e move a história, passiva ou
ativamente. Vejamos uns poucos e importantes exemplos:
“O homem é naturalmente um animal
político”. Aristóteles afirma em A Política que o homem é zoon politikon
(animal político), que significa que sua formação social e desenvolvimento
pessoal depende da polis e boas convivências politicas na mesma para sua plena
realização pessoal e, principalmente, ética.
Maquiavel, como já citado, dirá
que a política é a “Arte de conquistar, manter e exercer o poder/governo”
Para o pensamento contratualista,
o Estado político é a troca de anarchia pela archia, a troca do estado de
natureza pelo estado civil e político, em seus variados modelos. Pois aqui a
convivência social e política é garantidora de um usufruto muito superior a
relação estabelecida pela sobrevivência do mais forte.
Já Marx e Engels apontarão em
suas obras que a prática política é como uma gangorra antagônica, em que
ascensão de classe é queda de classe, o sucesso de alguns é devido ao insucesso
de muitos. A ação política é revolucionaria para o estabelecimento de uma nova
política igualitária e igualadora dos seus comparticipes.
Max Weber dirá que “O fim da política é a aquisição do monopólio da
força”. Política é a busca legitimada do uso autorizado da força para imposição
dos próprios interesses sobre os interesses dos outros com a aprovação dos
mesmos.
Eu diria que “A política é um
jogo de interesses, em que o político e o povo querem a mesma coisa, satisfazer
suas vontades”. Embora suas vontades não sejam semelhantes e o povo ignore
isso. Diria que “a esfera pessoal é uma esfera política”, e que assim, a
convivência social se perfaz numa disputa oculta de alavancar os próprios
desejos em negociação com desejos em sentidos contrários, semelhantes,
compensatórios. Não é uma visão pessimista. Veja, o amor é a política dos
sentimentos que se perfazem na busca de realizar enquanto se realiza, mesmo que
se realize em negação de si, a partir do conceito Ágape (de Jesus, por
exemplo), o que nos daria uma outra longa discussão. O fato é que somos seres
desejantes em busca da satisfação de desejos e até mesmo a abnegação é uma
expressão dessa condição humana, como diz Maquiavel no Príncipe.
Não poderíamos deixar de abordar
nessa breve reflexão política a questão da despolitização do cidadão
brasileiro, que tem relação direta com a negatividade que é atribuída a mesma
pelo imaginário popular de que política é coisa de pessoas de má índole,
gananciosas e interesseiras. Ideias de que o meio político é inescrupuloso e
corrompe qualquer um que participe dele. Porém, somente esse imaginário popular
não seria suficiente para tal rejeição, há uma forte ignorância política pela
não formação política da população em todas as classes, tanto no âmbito
familiar, como no escolar. A falta de diálogo, debate e conhecimento político
nos leva a votar em pessoas, não em propostas. Nos leva a não avaliar, estudar
e conhecer o passado e presente dos candidatos. É preciso consciência política,
mas a dificuldade sempre esbarra no “não gosto de política”. Mas para os que
repetem tal “heresia”, é preciso dizer que enquanto o homem viver em sociedade,
não há como não gostar de política. Ela está em tudo o que fazemos, ela permeia
nosso ser e formação pessoal/social, nossas escolhas são embebidas do
conhecimento ou desconhecimento político, pois por mais de foro íntimo que seja
uma escolha que fazemos ela terá desdobramentos para o nosso coletivo e social,
seja de uma forma ativa de nossa parte, seja de uma forma passiva, dela sobre
nós.
Para encerrar alguns exemplos
práticos da ação política em nossa prática de vida diária, seja ela politizada com
consciência ou não. A política tem participação direta em diversas esferas de
nossas vidas, em como educamos nossos filhos (lei da palmada), as tomadas
obrigatórias em nossas casas, o extintor dos carros, o kit de primeiros
socorros, os faróis acesos nas estradas, a aposentadoria pela previdência
social, o modelo educacional que nossos filhos terão, o preço do combustível
para nossos carros, o preço do gás de cozinha, as regras para convênios
médicos, seguros de todo tipo (toda e qualquer medida cabível para garantir a
segurança e saúde), os índices de taxa de juros para o país (que corrobora com
o andamento da economia e da inflação), o preço da energia elétrica e por
diante. Nestes termos, temos que a política incide diretamente sobre nós, com
consciência política ou não, para definir a nosso favor ou contra nós os
modelos sociais, políticos, econômicos e democráticos de convivência e
vivência, coletiva e pessoal.
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