quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Política: a Arte e Ciência de Governar

Política: a Arte e Ciência de Governar

As relações sociais são permeadas de tantas ideias, valores, sentimentos oriundos das formações sociais que obtivemos e que nos foram impostas (família, escola), que tendemos a considerar todas as coisas como naturais, com a imperante sensação de que sempre foi assim e de que assim o continuará. Contudo, todavia, no entanto, porém, é nosso papel/dever/obrigação de questionarmo-nos se não poderia ou deveria ser diferente.
A Política é discussão antiga que, como veremos, permeia as relações humanas e que por isso mesmo precisa ser pensada e entendida como uma construção histórica propositada e propositora (Maquiavel). Desde cedo somos ensinados na arte e ciência de sermos governados por todos aqueles que nos amam e nos cuidam. Aos quais em troca respondemos em respeito e obediência para uma melhor realização dos propósitos sociais já planejados ao nosso respeito. Voltaremos a essa perspectiva, formativo pessoal, de uma consciência política à frente.
Política é a habilidade pessoal ou organizacional no relacionar-se com os outros, tendo se em perspectiva a obtenção dos resultados desejados. Olhando o processo político de forma direta é preciso que entendamos o mesmo como um processo de luta de interesses diretos ou não tão diretos, onde se objetiva um bem qualquer em troca de outro bem ou outros bens quaisquer, ainda que esses não sejam materiais ou sejam somente abstratamente quantificáveis. De qualquer modo a omissão ou ignorância política provoca uma incompetência política para participar do jogo político que é o viver. E aqui podemos pontuar a primeira desmitologização ideológica social, que é a de que política é para políticos, e que se concentra em Brasília, no caso do Brasil. Oras, política é um exercício relacional continuo entre pais, filhos, irmãos, amigos, namorados, amantes. Teriam todos esses os mesmos interesses sempre? Assim, é na convivência e disputa de desejos, vontades, interesses, sonhos e tudo o mais, que vai se construindo nossos relacionamentos, e é na realização plena ou parcial dos mesmos que se mantém, aprofunda ou abrevia a prática político relacional. Claro que podemos chamar de amor – empatia, comprometimento, bem querer – não há problemas nisso; contudo, falando de prática sócio relacional política, Nicolau Maquiavel dirá que: “O homem é um ser desejante, que busca incessantemente o que não tem, o que lhe faz falta”.
Nos regimes democráticos a ciência política é a atividade dos cidadãos que se ocupam dos assuntos públicos atuando nos mesmos (legislativo, executivo e judiciário), ou militando a respeito dos mesmos em busca de melhores atuações públicas ou ainda exercendo o direito/obrigação da escolha da melhor alternativa política para o gerenciamento do poder público que direta ou indiretamente envolve a todos. A partir daqui é preciso ficar claro que a política é de uma importância vital para definir a quantidade de açúcar que você poderá utilizar no seu café, e mesmo que seja exagero da minha parte, pare e pense, quanto que uma crise política afeta a economia e uma crise econômica afeta sua vida? A presença da política está muito além da economia, ela envolve e move a história, passiva ou ativamente. Vejamos uns poucos e importantes exemplos:
“O homem é naturalmente um animal político”. Aristóteles afirma em A Política que o homem é zoon politikon (animal político), que significa que sua formação social e desenvolvimento pessoal depende da polis e boas convivências politicas na mesma para sua plena realização pessoal e, principalmente, ética.
Maquiavel, como já citado, dirá que a política é a “Arte de conquistar, manter e exercer o poder/governo”
Para o pensamento contratualista, o Estado político é a troca de anarchia pela archia, a troca do estado de natureza pelo estado civil e político, em seus variados modelos. Pois aqui a convivência social e política é garantidora de um usufruto muito superior a relação estabelecida pela sobrevivência do mais forte.
Já Marx e Engels apontarão em suas obras que a prática política é como uma gangorra antagônica, em que ascensão de classe é queda de classe, o sucesso de alguns é devido ao insucesso de muitos. A ação política é revolucionaria para o estabelecimento de uma nova política igualitária e igualadora dos seus comparticipes.
  Max Weber dirá que “O fim da política é a aquisição do monopólio da força”. Política é a busca legitimada do uso autorizado da força para imposição dos próprios interesses sobre os interesses dos outros com a aprovação dos mesmos.
Eu diria que “A política é um jogo de interesses, em que o político e o povo querem a mesma coisa, satisfazer suas vontades”. Embora suas vontades não sejam semelhantes e o povo ignore isso. Diria que “a esfera pessoal é uma esfera política”, e que assim, a convivência social se perfaz numa disputa oculta de alavancar os próprios desejos em negociação com desejos em sentidos contrários, semelhantes, compensatórios. Não é uma visão pessimista. Veja, o amor é a política dos sentimentos que se perfazem na busca de realizar enquanto se realiza, mesmo que se realize em negação de si, a partir do conceito Ágape (de Jesus, por exemplo), o que nos daria uma outra longa discussão. O fato é que somos seres desejantes em busca da satisfação de desejos e até mesmo a abnegação é uma expressão dessa condição humana, como diz Maquiavel no Príncipe.
Não poderíamos deixar de abordar nessa breve reflexão política a questão da despolitização do cidadão brasileiro, que tem relação direta com a negatividade que é atribuída a mesma pelo imaginário popular de que política é coisa de pessoas de má índole, gananciosas e interesseiras. Ideias de que o meio político é inescrupuloso e corrompe qualquer um que participe dele. Porém, somente esse imaginário popular não seria suficiente para tal rejeição, há uma forte ignorância política pela não formação política da população em todas as classes, tanto no âmbito familiar, como no escolar. A falta de diálogo, debate e conhecimento político nos leva a votar em pessoas, não em propostas. Nos leva a não avaliar, estudar e conhecer o passado e presente dos candidatos. É preciso consciência política, mas a dificuldade sempre esbarra no “não gosto de política”. Mas para os que repetem tal “heresia”, é preciso dizer que enquanto o homem viver em sociedade, não há como não gostar de política. Ela está em tudo o que fazemos, ela permeia nosso ser e formação pessoal/social, nossas escolhas são embebidas do conhecimento ou desconhecimento político, pois por mais de foro íntimo que seja uma escolha que fazemos ela terá desdobramentos para o nosso coletivo e social, seja de uma forma ativa de nossa parte, seja de uma forma passiva, dela sobre nós.
Para encerrar alguns exemplos práticos da ação política em nossa prática de vida diária, seja ela politizada com consciência ou não. A política tem participação direta em diversas esferas de nossas vidas, em como educamos nossos filhos (lei da palmada), as tomadas obrigatórias em nossas casas, o extintor dos carros, o kit de primeiros socorros, os faróis acesos nas estradas, a aposentadoria pela previdência social, o modelo educacional que nossos filhos terão, o preço do combustível para nossos carros, o preço do gás de cozinha, as regras para convênios médicos, seguros de todo tipo (toda e qualquer medida cabível para garantir a segurança e saúde), os índices de taxa de juros para o país (que corrobora com o andamento da economia e da inflação), o preço da energia elétrica e por diante. Nestes termos, temos que a política incide diretamente sobre nós, com consciência política ou não, para definir a nosso favor ou contra nós os modelos sociais, políticos, econômicos e democráticos de convivência e vivência, coletiva e pessoal.
    


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