O
Brasil Não Presta[1]:
breve análise da
não identificação como identificação nacional
É provável que a maior
parte dos brasileiros já tenham dito: “O Brasil não Presta” ou alguma sentença
similar. O fato é que vivemos em um Brasil que não vemos enquanto falamos de um
Brasil que imaginamos que deveria ser como o idealizamos a partir de ideias
ideais de nação. Tal ideia está presente no texto Escorraçando o Vira-latas[2]:
"Os
brasileiros acham que o mundo todo presta, menos o Brasil, realmente parece que
é um vício falar mal do Brasil. Todo lugar tem seus pontos positivos e
negativos, mas no exterior eles maximizam os positivos, enquanto no Brasil se
maximizam os negativos”.
Falamos de um Brasil que
não é nosso, um Brasil que representamos em discursos e ideias, um Brasil que
faz parte de nossa alienação social (representação de nossa realidade social
sem auto reconhecimento na mesma), um Brasil que é nossa casa e nosso destino.
Nos comentários do texto Escorraçando Vira-latas encontramos dezenas de
comentários atacando o país (sua política, educação, povo, cultura) e dizeres
como: “Quem pode suma deste lugar, faça o
quanto antes” “vaza daqui, vão embora
pra outro país”, “o pior do Brasil
são os brasileiros”. São brasileiros falando de um Brasil que não aceitam,
respeitam ou desejam. Como propor solução para uma nação/população que não se
aceita sendo como é, e que, pior ainda, não se enxerga como responsável por seu
país ser o que é. As soluções para tal problemáticas são problemáticas, visto
que queremos usar o pé para cuidar/tratar do pé (usar as mãos seria mais
eficiente). Vejamos alguns apontamentos da formação da psique brasileira
segundo as observações de Contardo Calligaris em seu livro Hello, Brasil.
O Brasil em seu processo
de formação não teve uma umtegração brasileira (a formação de um estado
nacional), que seria o surgimento de uma nação com consciência de nação. Os
diversos aspectos históricos contribuíram para isso, como a subjugação e
genocídio dos índios, a integração forçada (e posterior rejeição social) dos
negros africanos e a vinda de povos europeus e asiáticos em busca de conquistar
no Brasil aquilo que não conseguiram em sua própria pátria. E estando aqui não
construíram uma consciência e ideal nacional. Contardo aponta as diferenças
existentes entre a independência americana e a independência brasileira, a
primeira feita pela população local como representatividade de uma
identificação existencial e nacional, e a segunda como um ato do
colonizador/colono que tem por fundo seus próprios interesses (pessoais e
familiares) e não os interesses de formação de um país, um Estado, uma nação,
um povo, uma identidade e uma nacionalidade.
Então, o Brasil, presta
ou não presta? O psicanalista Octavio Souza respondeu assim: “Este país não presta” talvez seja uma frase
relacionada a um equívoco, como quando, ao tentarmos seduzir uma mulher que se
mostra indiferente às nossas propostas, nós reagimos à desfeita protestando
meio indignados, mas afetuosamente: “você não presta” (subtexto: “mas eu quero”[3]).
Para o colonizador o “Este país não presta” é sua frustração
em não conseguir adquirir nele aquilo que perdeu em sua própria pátria, e o “Este país não presta” é para o colono o
fracasso da umtegração, pois esse país não soube ser um pai, um um nacional capaz de assujeitá-lo
(torná-lo sujeito). O “Este país não presta” é resultado de um olhar brasileiro
alienado do que o Brasil é e do que imaginamos ou gostaríamos que ele fosse.
Intuídos de um ideal nacionalista de diversas fontes externas ao Brasil, como se
colocar o Brasil nas roupas dos Estados Unidos, Alemanha, França ou outro,
pudesse dar-lhe mais dignidade.
Segundo o antropólogo
Roberto DaMatta[4],
é preciso fazer a distinção entre o brasil com letra minúscula que é o nome de
um tipo de madeira de lei e de uma terra destinada a exploração, de Brasil com
letra maiúscula, que designa um povo, uma nação, com conjunto de valores,
escolhas e ideais de vida. E é precisamente isso que precisamos nos educar a
ter como consciência, que existe um olhar, pensamento e ideia sobre o Brasil que
não foi propriamente feita por brasileiros (ou pessoas que se sentissem
brasileiras), mas esse olhar atravessou a história cultural de nossa formação e
ainda povoa nossos pensamentos, levando-nos a pensar o Brasil como
colonizador/colono ou como um estrangeiro com outras raízes culturais, os quais
teriam razões culturais legitimas para assim pensar.
Tal qual Macunaíma, o
herói sem caráter de Mario de Andrade, buscamos diariamente ser heróis da nossa
própria existência tendo que subjugar a ética e o bom senso em nossa existência
social. Ouvimos e aprendemos que o bom não é o certo, e que o certo é o que é
bom, e que o bem pode as vezes se alinhar com os dois. E nessa ética aprendemos
que o correto é se dar bem. Quem nunca passou vergonha ao afirmar que gostaria
de fazer o certo mesmo que ao seu redor uma atitude incorreta fosse a adequada
para todos. Apontamos o dedo para diversas esferas sociais e dizemos o que é
certo e o que é o errado, e nesse julgamento valorativo excluímo-nos de valorar
nossos próprios atos. Podemos falar daqueles que são ponto comum, os políticos,
como representação de corrupção, os quais apontamos e condenamos, mas qual
aluno aqui pode em sua consciência (de si para si) dizer que nunca colou, e que
se fez foi por um motivo justificável. Assim, vivemos um complexo de Macunaíma,
somos o herói que se vangloria não de seus atos éticos e heroicos, e, sim de
sua auto elevação ao apontar as falhas e deslizes éticos dos outros.
É típico e originário do
brasileiro falar mal do Brasil, pois praguejar sua nação é tão somente uma
demonstração autêntica de brasilidade, de sangue tupiniquim nas veias, de
assimilação e incorporação (psicológica, emocional, biológica e até
fisiológica) cultural do Brasil em si. Quando se pragueja o Brasil se faz
aquilo que é natural e cultural ao brasileiro. Se aprende desde cedo, em casa,
na escola e em sociedade, a olhar o Brasil como o “país que não é” em vistas a
exemplos de países que supostamente “são”. A complicação é que temos
brasileiros falando de um Brasil que existe em suas cabeças a partir das
idealizações que fazem em seus contatos ou conhecimentos de outros
países/nações os quais supõem que o Brasil deveria ser igual. E opomos o Brasil
que não existe com o Brasil que existe e fazemos o primeiro vencer o segundo,
condenando o derrotado à execração e possível extermínio social de si no mesmo.
“O Brasil não presta” entra na esfera
intima/pessoal, cada um terá suas razões para dizer a favor da sentença ou
contra a sentença. Se conseguirmos identificar as razões/motivações para o
fazermos já teremos obtido um enorme progresso. Não pensaremos com pensamentos
de outros (alienados), mas teremos nossas ideias, razões e motivações para amar
ou rejeitar, elogiar ou criticar, aproximar ou afastar, se sentir brasileiro ou
desejar o acréscimo de outra nacionalidade. Espero (de esperança) que fique
explicito que o ato de questionar e discriminar a nação brasileira é uma
característica natural da cultura nacional, e que, embora seja comum não
precisa ser um destino comum de nossa própria formação intelectiva e
existencial em nossa condição e consciência nacional ser um povo patriótico
abortivo, que é rejeitar o útero que nos pariu ao rejeitar a pátria que nos
pariu.
[1] As
reflexões sobre o “um nacional” e a
sentença “O Brasil não Presta” são
expressões motriz do livro Hello, Brasil
de Contardo Calligaris onde reflete a identidade do povo brasileiro forjada e
decorrente de uma psique de colonizador e colono (uma tipificação ideal).
[2] O texto
está disponível na internet em https://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/razoes-para-o-brasileiro-parar-de-falar-mal-do-brasil,
porém, não consegui encontrar a autora.
[3]
Hello, Brasil. Página 174. Editora Três Estrelas, 2017.
[4]
O que faz do brasil, Brasil? Editora Rocco, 1986.
ResponderExcluirA esfera pessoal desestitui toda a ideia de patriotismo. Pq se eu amo, o faço com e apesar dos percalços. Contudo, se tiver um olhar egoísta, irei ponderar somente com aquilo que consigo extrair de bom. Serei mais um explorador, tanto quanto quem não é brasileiro faz... o Brasil pra mim é bom. Tenho casa, carro, trabalho. Mas olhando para o todo, não me sinto satisfeita, e sim, tento fazer "minha parte", mas a todo tempo há um questionamento martelando inquietantemente meu pensamento e me sinto tal qual Raul Seixas na canção Ouro de tolo.
IWELINRÊVE AT THE AT THE AT THE AT THE AT THE AT THE AT THE AT THE AT THE AT
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