domingo, 29 de setembro de 2019

A Revolução do Sujeito Pensante – Emanuel Kant


A Revolução do Sujeito Pensante – Emanuel Kant

A mente que pensa sobre seus pensamentos é uma mente que dá um passo adiante sobre a mente que não pensa seus pensamentos.

Ser pensante se constitui como aquele que é capaz de enquadrar o mundo e se enquadrar como estando nele, enquanto que aquele que pensa sem pensar que pensa ou sem pensar no que pensa, fica limitado a participar da realidade sem nem mesmo perceber que essa realidade existe, que ela não é única e nem que ela é uma construção humana derivativa do seu processo de perceber e aprender sobre o mundo. Eis aqui a revolução do sujeito de Kant, se antes o saber era realizado por categorias externas ao ser (alma/razão/corpo/sentidos) agora é o ser que realiza os processos de conhecimento se valendo dessas categorias que são intrínsecas a sua própria existência.
É provável que haja muito mais que não conhecemos do que aquilo que já conhecemos. Nosso processo de conhecimento está vinculado as nossas capacidades perceptivas e nossas criações para potencializar essa percepção (telescópio, microscópio) do que é e como é o mundo. Ao definir o mundo, o humano acaba por definir a si mesmo, pois essas descobertas do mundo revelam coisas sobre o humano e sobre o mundo do humano. Diante do debate moderno de onde se originaria o conhecimento Emanuel Kant tira o processo de cogito/alma racionalista e dos sentidos sensoriais dos materialistas, ou seja, o conhecimento não é resultado da intelecção da alma e nem resultado da relação do corpo, mas sim algo mais complexo. O conhecimento é processo de desenvolvimento do sujeito (o que Kant faz é tirar o objeto do conhecimento do centro e coloca em seu lugar o sujeito do conhecimento), é o sujeito que aprende. E assim, tal como Nicolau Copérnico tirou a terra do centro do universo até então desconhecido, Kant tira os processos de conhecimentos (meios de conhecimento) do centro e coloca o humano e suas capacidades a priori e a posteriori como fonte real do saber/conhecer humano. O que chamamos de Revolução Copernicana. O que Kant postula é que não é o pensamento que se adapta as coisas (racionalismo e materialismo) e sim as coisas que se adaptam ao pensamento. É a subjetividade do pensante que configura o objeto, pois, o pensamento se configura e se realiza sempre em um contexto de espaço e tempo (nada pode ser percebido fora dessa configuração espacial e consequentemente temporal). O espaço é uma realidade que se apresenta como imanente e inerente a existência e percepção do humano. O tempo é a outra realidade, ele acontece dentro do homem, na sua interação com o espaço.
Na Crítica da Razão Pura, Kant quer compreender o que realmente se pode conhecer, seja a priori (antes da experiência) e a posteriori (depois da experiência). Assim, o aprendizado se dá de maneira processual, os sentidos captam os dados do mundo e os formata segundo o processo a priori do ser (os configura na estrutura de espaço e no tempo, que são intuições cognitivas presentes na mente que coloca o mundo em estruturas organizativas como em cima, embaixo, antes, depois). Conhecer é, nestes processos, transformar as coisas do mundo em si (percebemos o mundo de maneira semelhante devido a universalidade dos nossos processos a priori). A universalidade do processo de conhecimento nos leva a ter certezas sobre a realidade, certezas que ele chama de juízos (juízo analítico e juízo sintético). O primeiro, juízo analítico, é aquele em que as determinações das coisas estão no sujeito, a determinação do redondo, acima, abaixo, extenso, curto, longo. E o segundo, juízos sintéticos (predicado das coisas, o que elas são), que é a determinação se a mesa redonda ou quadrada é de madeira, que a bola redonda é amarela. Os juízos analíticos são a priori e os juízos sintéticos a posteriori. O postulado de Kant é que as definições do mundo e da experiência do mundo estão contidas a priori na mente e que a experiência do mundo (limitada pelas possibilidades dos sentidos do corpo) é complementação do processo que sem ela não existiria.  Estamos presos a uma estrutura perceptiva do mundo, não que o que percebemos seja o real, mas é a nossa capacidade de perceber o mundo. A capacidade de perceber o mundo é universal, todos percebemos de maneiras semelhantes, por isso é provável que essa percepção não seja a percepção do que o real é, mas é como nós percebemos o mundo real, é provável que não coincida o que nós vemos do mundo com o que o mundo realmente é. Não temos como saber, visto que todos dispomos das mesmas capacidades cognitivas e sensitivas, não podemos sair de nós para dizer o que o mundo é sem nós.
O caminho da filosofia posterior as ideias de Kant levam a filosofia para reflexões que iriam trabalhar as percepções de Kant, a favor ou contra, ela iria refletir sobre o pensamento de Kant, quando diz que não podemos acessar “as coisas como elas são”, mas só podemos ter o fenômeno dela em nós, “como as coisas são para nós”. Nisso surge as teorias idealistas do Realismo e do Idealismo. No primeiro as ideias são produto da interação do homem com a realidade e no segundo as ideias são projeções ideais que a mente faz da realidade. Para se relacionar com o mundo a mente humana cria categorias ideais que ajudam e servem como referência para ela se guiar no mundo real, então o homem cria norte-sul, cria bonito e feio, cria rápido e devagar, e muitas outras categorias a partir das suas relações com o mundo.
Assim, a Crítica da Razão Pura é uma análise do entendimento do conhecimento humano tão pertinente que precisa estar presente em um pensamento filosófico sério, isto é, aqueles que vieram após Kant precisam falar de Kant ou levar em conta Kant. Entender os outros teóricos como Hegel, Fitche, Scheling, Marx, Nietsche, Freud, Foucault e outros, passa a ser obrigatório saber o que é o fenômeno e que é numeno, seja para validar ou para contrariar, ou mesmo fazer um meio termo, seria preciso que os sujeitos pensantes levassem em conta a própria revolução cognitiva que é a epistemologia feito a partir do sujeito do saber.

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