A Revolução do
Sujeito Pensante – Emanuel Kant
A mente que pensa sobre seus pensamentos é
uma mente que dá um passo adiante sobre a mente que não pensa seus pensamentos.
Ser
pensante se constitui como aquele que é capaz de enquadrar o mundo e se
enquadrar como estando nele, enquanto que aquele que pensa sem pensar que pensa
ou sem pensar no que pensa, fica limitado a participar da realidade sem nem
mesmo perceber que essa realidade existe, que ela não é única e nem que ela é
uma construção humana derivativa do seu processo de perceber e aprender sobre o
mundo. Eis aqui a revolução do sujeito de Kant, se antes o saber era realizado
por categorias externas ao ser (alma/razão/corpo/sentidos) agora é o ser que
realiza os processos de conhecimento se valendo dessas categorias que são intrínsecas
a sua própria existência.
É
provável que haja muito mais que não conhecemos do que aquilo que já
conhecemos. Nosso processo de conhecimento está vinculado as nossas capacidades
perceptivas e nossas criações para potencializar essa percepção (telescópio,
microscópio) do que é e como é o mundo. Ao definir o mundo, o humano acaba por definir
a si mesmo, pois essas descobertas do mundo revelam coisas sobre o humano e
sobre o mundo do humano. Diante do debate moderno de onde se originaria o
conhecimento Emanuel Kant tira o processo de cogito/alma racionalista e dos
sentidos sensoriais dos materialistas, ou seja, o conhecimento não é resultado
da intelecção da alma e nem resultado da relação do corpo, mas sim algo mais
complexo. O conhecimento é processo de desenvolvimento do sujeito (o que Kant
faz é tirar o objeto do conhecimento do centro e coloca em seu lugar o sujeito
do conhecimento), é o sujeito que aprende. E assim, tal como Nicolau Copérnico
tirou a terra do centro do universo até então desconhecido, Kant tira os
processos de conhecimentos (meios de conhecimento) do centro e coloca o humano
e suas capacidades a priori e a posteriori como fonte real do saber/conhecer
humano. O que chamamos de Revolução Copernicana. O que Kant postula é que não é
o pensamento que se adapta as coisas (racionalismo e materialismo) e sim as
coisas que se adaptam ao pensamento. É a subjetividade do pensante que configura
o objeto, pois, o pensamento se configura e se realiza sempre em um contexto de
espaço e tempo (nada pode ser percebido fora dessa configuração espacial e
consequentemente temporal). O espaço é uma realidade que se apresenta como
imanente e inerente a existência e percepção do humano. O tempo é a outra
realidade, ele acontece dentro do homem, na sua interação com o espaço.
Na
Crítica da Razão Pura, Kant quer compreender o que realmente se pode conhecer,
seja a priori (antes da experiência) e a posteriori (depois da experiência).
Assim, o aprendizado se dá de maneira processual, os sentidos captam os dados
do mundo e os formata segundo o processo a priori do ser (os configura na estrutura
de espaço e no tempo, que são intuições cognitivas presentes na mente que
coloca o mundo em estruturas organizativas como em cima, embaixo, antes,
depois). Conhecer é, nestes processos, transformar as coisas do mundo em si (percebemos
o mundo de maneira semelhante devido a universalidade dos nossos processos a
priori). A universalidade do processo de conhecimento nos leva a ter certezas
sobre a realidade, certezas que ele chama de juízos (juízo analítico e juízo
sintético). O primeiro, juízo analítico, é aquele em que as determinações das
coisas estão no sujeito, a determinação do redondo, acima, abaixo, extenso,
curto, longo. E o segundo, juízos sintéticos (predicado das coisas, o que elas
são), que é a determinação se a mesa redonda ou quadrada é de madeira, que a
bola redonda é amarela. Os juízos analíticos são a priori e os juízos sintéticos
a posteriori. O postulado de Kant é que as definições do mundo e da experiência
do mundo estão contidas a priori na mente e que a experiência do mundo
(limitada pelas possibilidades dos sentidos do corpo) é complementação do
processo que sem ela não existiria. Estamos
presos a uma estrutura perceptiva do mundo, não que o que percebemos seja o
real, mas é a nossa capacidade de perceber o mundo. A capacidade de perceber o
mundo é universal, todos percebemos de maneiras semelhantes, por isso é provável
que essa percepção não seja a percepção do que o real é, mas é como nós
percebemos o mundo real, é provável que não coincida o que nós vemos do mundo
com o que o mundo realmente é. Não temos como saber, visto que todos dispomos
das mesmas capacidades cognitivas e sensitivas, não podemos sair de nós para
dizer o que o mundo é sem nós.
O caminho
da filosofia posterior as ideias de Kant levam a filosofia para reflexões que
iriam trabalhar as percepções de Kant, a favor ou contra, ela iria refletir
sobre o pensamento de Kant, quando diz que não podemos acessar “as coisas como
elas são”, mas só podemos ter o fenômeno dela em nós, “como as coisas são para
nós”. Nisso surge as teorias idealistas do Realismo e do Idealismo. No primeiro
as ideias são produto da interação do homem com a realidade e no segundo as
ideias são projeções ideais que a mente faz da realidade. Para se relacionar
com o mundo a mente humana cria categorias ideais que ajudam e servem como
referência para ela se guiar no mundo real, então o homem cria norte-sul, cria
bonito e feio, cria rápido e devagar, e muitas outras categorias a partir das
suas relações com o mundo.
Assim,
a Crítica da Razão Pura é uma análise do entendimento do conhecimento humano tão
pertinente que precisa estar presente em um pensamento filosófico sério, isto
é, aqueles que vieram após Kant precisam falar de Kant ou levar em conta Kant. Entender
os outros teóricos como Hegel, Fitche, Scheling, Marx, Nietsche, Freud,
Foucault e outros, passa a ser obrigatório saber o que é o fenômeno e que é numeno,
seja para validar ou para contrariar, ou mesmo fazer um meio termo, seria
preciso que os sujeitos pensantes levassem em conta a própria revolução cognitiva
que é a epistemologia feito a partir do sujeito do saber.
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