Idealismo das Ideias
– Georg Friedrich Hegel
Poderíamos
sem dúvida nenhuma falar de epistemologia[1]
antes de Kant e epistemologia depois de Kant, pois, o alemão causa uma nova
concepção de conhecer e obter conhecimento, e após ele se fala dele, seja para
concordar ou discordar, o que não se pode é o ignorar. Suas contribuições são
gigantescas. A filosofia ganha novos traços depois de suas postulações epistemológicas.
Segundo Kant estamos presos a uma estrutura perceptiva do mundo, o que percebemos
do mundo não é o real, mas o resultado das nossas possiblidades de percepção. Essa
capacidade de perceber o mundo é universal, todos nós o percebemos assim, mesmo
que essa percepção do que é o real não seja mesmo o real, mas como nós
percebemos o mundo. Esse seria o ponto de partida dos pensadores idealistas
após Kant.
O caminho
da filosofia na sequência das ideias de Kant leva a filosofia para as reflexões
dos filósofos que iriam trabalhar as percepções de Kant, a favor ou contra,
estes fariam parte da escola denominada de Idealismo Alemão. Eles refletem sobre
o pensamento de Kant quando diz que não podemos acessar “as coisas como elas
são”, mas só podemos ter o fenômeno dela em nós, “como as coisas são para nós”.
Nisso surge as teorias idealistas do Realismo e do Idealismo. No primeiro as
ideias são produto da interação do homem com a realidade e no segundo as ideias
são projeções ideais que a mente faz da realidade. Para se relacionar com o
mundo o humano cria categorias ideais que ajudam e servem como referência para
ele se guiar no mundo real, por isso ele cria os conceitos de norte-sul, de bonito
e feio, de rápido e devagar, e muitas outras categorias a partir das suas
relações com o mundo.
O
idealismo é uma maneira de explicar que as coisas reais que existem são
determinadas por uma ideia universal anterior. Hegel é reconhecido enquanto um
idealista, mas não foi ele o primeiro e nem o único a tentar explicar que as
ideias são anteriores às coisas, como fez Platão. Segundo suas teorias (Hegel) não
existe algo que seja impossível de ser pensado. Não é possível separar o mundo
do sujeito, o objeto e o conhecimento, o universal e o particular. Assim, ele
afirma que “o real é racional e o racional é real”. Essa racionalidade é para
Hegel resultado de um processo dialético que não é exclusivo da racionalidade,
pois está presente em todas as realidades que se nos apresentam. A dialética é
o processo de transformação e construção do pensamento e de toda a realidade que
circunda o sujeito pensante. Toda a realidade poderia ser compreendida por meio
da dialética, alcançando a verdade mais universal por meio dela. A dialética
mostra como as ideias contraditórias dependem umas das outras e estão em
constante atrito, e esses atritos causam novas realidades e pensamentos. Por exemplo,
a dialética do senhor e do escravo é um bom exemplo, dado pelo próprio Hegel.
Nessa metáfora, primeiro, o senhor, que é uma consciência, submete o escravo a
um objeto. Entretanto, para que o senhor continue como senhor, o escravo
precisa reconhecê-lo como tal. Assim, o escravo é ao mesmo tempo objeto e também
sujeito: o senhor precisa do escravo para ser senhor. Quando o senhor precisa
do reconhecimento do escravo, ele acaba se fazendo também objeto. nisto, as
posições de senhor e escravo, sujeito e objeto, são trocadas a todo momento
entre eles, como em uma luta incessante, por isso, a dialética é fundamentada
na tese e na antítese. Na metáfora do senhor e do escravo, a afirmação de um eu
(tese) precisa do reconhecimento do outro, de sua própria negação (antítese).
Esse atrito entre a tese e a antítese culmina na síntese, a negação da negação,
no desenvolvimento da história. A dialética é, assim, a própria forma como as
coisas ocorrem, e é também o meio pelo qual podemos alcançar a verdade. O
desenvolvimento da história está na superação das contradições. Veja outro
exemplo: “ambos os amores individuais
deixam de ser atos unilaterais para serem um único ato que é bilateral. Não
importa mais quem pergunta e quem responde, pois ambos os amores iniciais perderam
o seu eu individual, o eu e o tu, para significar algo novo, os nós”.
Hegel
é um representante da escola idealista alemã[2],
e com sua metodologia histórica do pensamento filosófico faz é uma leitura
histórica do pensamento ou uma história da filosofia, e, nessa leitura
histórica do pensamento procura analisar e explicar como o pensamento humano (uma
realidade dialética) aconteceu no decorrer da história até chegar no ápice de
si, que seria a consciência do seu desenvolvimento histórico e da dialética suprema
de si ou o Espirito Absoluto, como Hegel o chamou. O Espírito absoluto é o
pensamento que tem consciência da história, consciência de si e consciência do
outro. Hegel tem um propósito, direta ou indiretamente, nessa construção epistemológica,
pois ele (com esse pensamento absoluto) vai dialogar com as suas teorias do
estado, do pensamento e da realidade, que representam a transformação ou
construção da realidade ou de uma dialética da realidade que representa a
essência da humanidade muito importante para ele.
O Espírito
Absoluto é apresentado em três fases: O SER EM SI (o ser tem consciência de sua
existência). O SER PARA O OUTRO (o segundo estágio do ser, quando ele perceber
o outro a existência do outro como algo análogo à sua própria existência). Assim,
teremos como consequência dialética O SER-PARA-SI que é o ser que surge com a consciência
de si e do outro. É o ser que volta para si mesmo depois de saber que existe o
si mesmo e que existe o outro, e a partir disso busca se adequar se encaixar e
se encontrar no mundo. Esse ser é o que ele chama de espírito absoluto, o
espírito absoluto ou a consciência absoluta. Que é quando você tem consciência
de si e do outro, e de que formou a sua existência no mundo a partir dessas
contradições.
A dialética,
presente em todas as realidades e possibilidades humanas possíveis, é o
processo Hegeliano de construção e entendimento do mundo. A dialética tem três
momentos, o primeiro é o "ser em si", o segundo é o "ser outro
ou fora de si" e o terceiro é o "retorno a si ou ser em si e para si".
Por exemplo, a dialética na realidade é como a “semente”, ela é em si a planta,
mas ela deve morrer como semente e, portanto, sair fora de si, a fim de poder
se tornar, a planta para si (ou em si e para si)". A construção da
realidade e da verdade é um constante processo entre o ser e o não ser. A
conceituação, a construção da realidade pela nossa racionalidade, é algo que
vem do nada e tem a possibilidade de ir para o ser e para o nada no processo
dialético. Ou nas palavras do autor: "o ser e o nada são uma só e mesma coisa".
É da relação de oposição de ser (o que é) e o nada (o que não é) que surgem
conceitos como identidade, ideias e pensamentos, pois o ser e o nada são realidades
transitórias, instantâneas do pensar, sendo necessário (ocultamente) a existência
de um para legitimar o outro.
Para finalizar,
é importante salientar que a filosofia de Hegel é de uma importância sem tamanho
para o pensamento de Karl Marx, pois ele (Marx) irá basear a sua estrutura dialética
do pensamento na teoria dialética idealista de Hegel, fazendo para isso uma inversão
da mesma. Marx, influenciado por Schopenhauer, faz uma inversão dos
pressupostos de Hegel. Exemplo: para Hegel o apagador real é precedido pelo
apagador ideal, que é resultado de um processo dialético do ser e que colocará
realidades materiais em contraposição para fazê-lo. Já para Karl Marx o
apagador ideal é resultado de uma realidade (necessidade) material que produz
uma dialética no mundo e nas ideias para concebê-lo e produzi-lo no mundo. Em Marx
a ideia é efeito da realidade material que a causa.
Hegel é
o ápice da filosofia de Hegel (nele está o ápice da sua filosofia), e como
outros teóricos buscou fazer uma epistemologia das ideias.
Veja
alguns aforismos que ele formulou:
-
A mente da mulher não é adequada às ciências mais elevadas.
-
Quem quer algo de grande deve saber limitar-se.
-
Nada de grande é realizado sem Paixão.
-
Escolher entre o bem e o mal é fácil, difícil é escolher entre o bem e o bem.
-
O Estado é o fim e os cidadãos os meios.
-
O que o homem é, é através da educação e da disciplina.
-
O povo é a parte do Estado que não sabe o que quer.
-
História é caminhar entre as ruínas do passado.
-
A contradição é a raiz de todo movimento.
-
A filosofia é o mundo ao contrário.
-
Independente é o homem que sabe o que o determina.
-
Liberdade é a compreensão das necessidades.
-
Os grandes homens foram infelizes.
-
Pensar e amar são coisas diferentes.
-
Algo é em-si na medida em que, a partir do ser-para-outro, ele regressou a si.
-
“[…] o negativo é do mesmo modo positivo”
[1]
A epistemologia estuda a origem, a estrutura, os métodos e a validade do
conhecimento, e também é conhecida como teoria do conhecimento e relaciona-se
com a metafísica, a lógica e a filosofia da ciência. É uma das principais áreas
da filosofia, compreende a possibilidade do conhecimento, ou seja, se é
possível o ser humano alcançar o conhecimento total e genuíno, e da origem do
conhecimento.
[2]
Vale salientar que o termo idealismo alemão ou escola idealista alemã são categorias
ideias criadas para representar esse moviemento histórico de pensadores que
buscaram entender e explicar o próprio pensar humano.
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