Alteridade e
Convivência – Emmanuel Levinas
Emmanuel
Levinas foi um filósofo francês de família judaica, que caracteriza suas obras
numa perspectiva fenomenológica, que é primeiramente uma descrição dos atos do
espirito, sua intencionalidade, afeição e sensibilidade; e em segundo é uma
reflexão a partir do indivíduo. A partir dessas duas estruturas desenvolve sua
concepção ética, que é comprometida com o permanente reconhecimento do outro.
Aqui
Levinas irá inverter uma máxima maquiavelista tão comum na ética capitalista de
nossos dias, que é a de que “os fins justificam os meios”, ou seja, o resultado
pretendido é o que importa nas relações que são estabelecidas. Para Levinas os
fins não justificam os meios, visto que o outro é fundamental para constituição
do si mesmo. O outro é constituinte do eu, a formação de um se dá através do
outro (o rosto do outro sempre pede uma resposta). Se a formação do eu se dá na
relação direta ou indireta com o outro, esse outro é gerador no eu do infinito
de si. A existência é a necessidade do infinito, a necessidade do outro, a identificação
que tenho de mim na relação com o outro, e que faz com que sejamos incompletos,
já que por mais que eu seja satisfatório em mim, está no outro a real
satisfação, ou a satisfação ainda maior de mim mesmo. Assim temos que “o desejo
pelo infinito se realiza no outro em retroação consigo e com o outro”. É o
desejo do infinito, dirá Levinas, pois quando uma convivência é boa nos faz
querer mais, e isso infinitamente. Aqui então temos uma primeira definição de alteridade,
que é alimentar o desejo do infinito na relação com o outro. A complexidade da
descrição de si na música “Infinito Particular” da Marisa Montes, é reveladora
desse infinito relacional. Compreender a outra pessoa é tomar para si aquilo
que é ela, ou dela. E a alteridade é essa ação compreensiva do outro no eu sem
eliminar o seu tu.
Essas concepções Levinianas nos levarão necessária a nos perguntar e definir as duas perguntas históricas: “O que é o ser?” Se somos o infinito em formação na alteridade, ou seja, o infinito que se perfaz em infinito, e a outra “O que é a verdade?” Ora, se a compreensão de si e do outro são temporárias, já que o eu e o outro são uma permanente construção relacional (conceito que tem referência direta em Heráclito no conceito sobre o ser que é ser ao não ser, mobilismo existencial), a compreensão do mundo também o será, e as concepções de verdades (oposição a uma só Verdade) também serão. A filosofia é, nestes termos, a busca das verdades, a busca das exterioridades reveladoras das condicionantes existenciais e relacionais. Agora objetiva-se relacionar se concretamente com o que está além do eu, exterior, fora de seu controle, de sua posse, sob a qual o eu não tem domínio nenhum.
Essas concepções Levinianas nos levarão necessária a nos perguntar e definir as duas perguntas históricas: “O que é o ser?” Se somos o infinito em formação na alteridade, ou seja, o infinito que se perfaz em infinito, e a outra “O que é a verdade?” Ora, se a compreensão de si e do outro são temporárias, já que o eu e o outro são uma permanente construção relacional (conceito que tem referência direta em Heráclito no conceito sobre o ser que é ser ao não ser, mobilismo existencial), a compreensão do mundo também o será, e as concepções de verdades (oposição a uma só Verdade) também serão. A filosofia é, nestes termos, a busca das verdades, a busca das exterioridades reveladoras das condicionantes existenciais e relacionais. Agora objetiva-se relacionar se concretamente com o que está além do eu, exterior, fora de seu controle, de sua posse, sob a qual o eu não tem domínio nenhum.
Aqui
surge uma indagação: como compreender o outro sendo o eu um outro, e ao mesmo
tempo sabendo do desejo infinito constituinte dessa relação? Levinas dirá que
para refletir sobre o outro não é possível cometer o erro de se colocar no
lugar do outro, exatamente por ser o outro um outro que não pode ser
compreendido em si, ele precisa ser respeitado em si, compreendido em si, aceito
em si. O outro não pode ser um outro em mim, precisa ter seu espaço existencial
respeitado para que possa ser esse outro que me permite na alteridade ser eu.
Aqui Emmanuel Levinas faz uma crítica feroz ao modo de produção capitalista, com referências diretas a Industria Cultural, pois nessas concepções contemporâneas o outro é um obstáculo do eu, um empecilho para si, um adversário na construção pessoal. Para Levinas, Alteridade é respeito ao outro como outro, e a busca da construção de um eu que se faz só na subjugação do eu-outro, não pode ser um eu autêntico, visto que está negando a si o único meio saudável de se ser um ser, um eu expansivo e infinito.
Aqui Emmanuel Levinas faz uma crítica feroz ao modo de produção capitalista, com referências diretas a Industria Cultural, pois nessas concepções contemporâneas o outro é um obstáculo do eu, um empecilho para si, um adversário na construção pessoal. Para Levinas, Alteridade é respeito ao outro como outro, e a busca da construção de um eu que se faz só na subjugação do eu-outro, não pode ser um eu autêntico, visto que está negando a si o único meio saudável de se ser um ser, um eu expansivo e infinito.
Vale
aqui lembrar que o conceito da subjetividade como fundamento da realidade
perpassa toda a modernidade. Essa lógica capitalista ou industrial quebra o
conceito da compreensão do outro como ser para torna-lo uma coisa, um objeto
quantificável e descritível. Aqui temos um conceito que representa essa ideia,
o que ele chama de “Filicídio” que é o nome do pai no filho. Uma tentativa de
extensão do eu do pai no eu do filho.
A
proposta de Emmanuel Levinas é de uma nova relação ética entre o ser e o
externo ao ser, para que aconteça uma relação entre ser e ser, e não ser e
coisa. Aqui acontece uma diferenciação e junção nos conceitos de ética que
seriam entre êthos e éthos. O primeiro Êthos é concebido como a morada do ser,
a personalidade e os hábitos; já o Éthos é entendido como costume social,
aquilo que se faz no convívio social. Assim, a ética da alteridade é viver a
alteridade tanto quanto aos costumes quanto no valor e significado que damos as
coisas no privado. O sentido e propósito da unificação ética é a preservação da
morte e a luta pela vida para o maior número possível, aqui temos uma junção da
alteridade com o pensamento utilitarista[1].
A ética se amplia para uma contextualização do ser com o outro e os outros no todo que se impõe e nos compõem, porque fora da alteridade eu me fetichizo, me sacralizo e torno possível a utilização do outro para o meu querer, para o meu prazer. Um exemplo contemporâneo é o “ficar”, sem comprometimento ou envolvimento afetivo. O anti-fetichismo pessoal e político é abrir se ao outro para se abrir ao infinito somente possível na relação altera com o outro. A ética altera se politiza (a política é necessária), pois para uma existência ser ética precisa ser política no micro e no macro (sabendo que o macro define o micro – o preço da farinha, por exemplo). A dialética da alteridade levada ao termos irá considerar a condição indivíduo a partir dele e não de um esquema social, por exemplo, a ajuda para um morador de rua não é necessariamente o seu retorno social, aquilo que se considera o padrão.
Para que possamos encerrar nossa textualização dos conceitos centrais de Emmanuel Levinas, uma última proposição é a de bem comum, que segundo ele só pode acontecer na alteridade, só podemos estabelecer o que é bom para o coletivo estabelecendo a alteridade entre ele, para que na compreensão e aceitação do outro se estabelece os parâmetros para o si mesmo em busca do bem comum para todos. Está atitude se torna compreensível quando se entende que o ser humano se define e se constrói historicamente, e é historicamente que precisa definir sua convivência. E a alteridade, o passo necessário, é em nossos tempos o caminho necessário para que possamos construir a melhor convivência possível (existência do infinito) em uma sociedade tão avessa ao cuidado com o outro, e tão avessa em se abrir para outro para conviver e assim existir no melhor possível de si, que é a infinitude relacional como limite. O eu e o outro em conjugação produzem uma existência tão plena quanto ilimitada na elaboração continua de eus e outros na constante experiência de se transcender como ser.
A ética se amplia para uma contextualização do ser com o outro e os outros no todo que se impõe e nos compõem, porque fora da alteridade eu me fetichizo, me sacralizo e torno possível a utilização do outro para o meu querer, para o meu prazer. Um exemplo contemporâneo é o “ficar”, sem comprometimento ou envolvimento afetivo. O anti-fetichismo pessoal e político é abrir se ao outro para se abrir ao infinito somente possível na relação altera com o outro. A ética altera se politiza (a política é necessária), pois para uma existência ser ética precisa ser política no micro e no macro (sabendo que o macro define o micro – o preço da farinha, por exemplo). A dialética da alteridade levada ao termos irá considerar a condição indivíduo a partir dele e não de um esquema social, por exemplo, a ajuda para um morador de rua não é necessariamente o seu retorno social, aquilo que se considera o padrão.
Para que possamos encerrar nossa textualização dos conceitos centrais de Emmanuel Levinas, uma última proposição é a de bem comum, que segundo ele só pode acontecer na alteridade, só podemos estabelecer o que é bom para o coletivo estabelecendo a alteridade entre ele, para que na compreensão e aceitação do outro se estabelece os parâmetros para o si mesmo em busca do bem comum para todos. Está atitude se torna compreensível quando se entende que o ser humano se define e se constrói historicamente, e é historicamente que precisa definir sua convivência. E a alteridade, o passo necessário, é em nossos tempos o caminho necessário para que possamos construir a melhor convivência possível (existência do infinito) em uma sociedade tão avessa ao cuidado com o outro, e tão avessa em se abrir para outro para conviver e assim existir no melhor possível de si, que é a infinitude relacional como limite. O eu e o outro em conjugação produzem uma existência tão plena quanto ilimitada na elaboração continua de eus e outros na constante experiência de se transcender como ser.
[1] Teoria
desenvolvida na filosofia liberal inglesa, que considera a boa ação ou a boa
regra de conduta caracterizáveis pela utilidade e pelo prazer que podem
proporcionar a um indivíduo e, em extensão, à coletividade.
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