segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Felicidade: algumas ideias e percepções Aristotélicas

Felicidade: Algumas Ideias e Percepções Aristotélicas
“A felicidade é tema normalmente presente provavelmente por sua natural ausência”
Temos a felicidade como tema rotineiro nos livros, jornais, novelas, filmes, seriados e outros. A felicidade tem um fundo presencial em nosso cotidiano, em nossas escolhas diárias, desde a mais simples (o que colocar no prato) a mais complicada (que faculdade cursar, quando casar), e esse tema tão essencial à existência e história humana, presente para cada um de nós, foi também tema dos grandes filósofos da história humana (também dos clássicos Sócrates, Platão e Aristóteles), vejamos como Aristóteles concebia essa que é a dádiva oculta e onipresente em nossa cotidiana vivência, façamos isso refletindo a partir do seu livro I da Ética a Nicomâco.
Comecemos dizendo que na compreensão teleológica de Aristóteles, no livro supracitado, um bem maior é a finalidade de bens comuns e cotidianos, e é a felicidade um fim último, a felicidade é um bem supremo que todos desejam. A Felicidade como fim (finalidade) é o que todos desejam viver. As conquistas e realizações são meios para tal. O que seria essa felicidade? Numa abordagem primária seria “o encaixe de si no melhor de si no mundo e no cosmo em sua própria existência”.
 Felicidade é, também, uma consequência de uma existência equilibrada e equânime, que é a melhor, a mais nobre e a mais aprazível coisa do mundo, e esses atributos não devem estar separados como na inscrição existente em Delfos “das coisas, a mais nobre é a mais justa, e a melhor é a saúde; porém a mais doce é ter o que amamos”. Felicidade é a justa medida nem excesso nem falta.
Qual o melhor tipo de vida? (Se é que há um) O que é felicidade? É melhor ser feliz ou fazer o bem ou o que é certo? Em Ética a Nicomâco, Aristóteles consagrou a ética do meio termo. Instruiu o seu filho ao prazer e o estudo como melhor meio de vida, visto que a especificidade do homem é ser um animal racional. Para Aristóteles, como Sócrates e Platão, a virtude é a condição em que o homem é senhor de si, tem autocontrole (autarquia). O homem virtuoso é o homem que é senhor e mestre dos seus desejos. A excelência é obtida pelo exercício habitual do caráter. As qualidades do caráter levam a identificar os extremos e a justa medida. Aristóteles dirá quem entre a covardia e audácia, mais necessário e virtuoso é a coragem. Mais aprazível que a belicosidade ou a bajulação, é a amizade e suas consequências. Mais útil que a indolência ou a ganância, está a ambição, que é a chave mestra para a conquista de si e dos próprios quereres. Felicidade está em consonância com o lema grego “Nada em excesso”.
No livro I Aristóteles elenca diversas condicionantes para um viver virtuoso e feliz. Ele elenca, por exemplo, três tipos principais de vida: a vida apenas na fluência de prazeres; a vida segundo as honrarias e benesses da vida política e a vida contemplativa. No que se refere à vida reduzida à obtenção de prazeres, Aristóteles a considera bestial e escrava; quanto à vida pública, considera a honra como concessão do público (o que não é bom). E a vida contemplativa que tem como prática o conhecer-se e a seu telos e a prática da virtude, ambas como condição necessária para a realização da felicidade (eudaimonia[1]).
Já em relação à ética Aristóteles diz que o objetivo da mesma é a obtenção da felicidade (eudaimonia), mas esta sofre grande diferença quando tratada pelo vulgo (plebe, povo) ou pelos sábios, pois o vulgo compara a felicidade ao prazer, riqueza ou ostentação. Eles não conseguem perceber que acima dos bens imediatos há um bem subsistente e causa da bondade de todos os demais (a virtude e os fins existenciais). E para ambas há dois caminhos: o das ações para os princípios ou dos princípios para as ações, e o das ações como são exercidas por nós, o que exige conhecimento e hábito, esclarecimento e boa educação.
Para concluirmos essas reflexões sobre a ética, Aristóteles irá apontar que a felicidade é um instante de vida eudaimônica e teleológico, que é viver sendo quem é em harmonia com os próprios dons, talentos e potencialidades. É uma vida em manifesta excelência de si, em encaixe cósmico, em plenitude vital. Felicidade é a existência virtuosa e equilibrada no encaixe teleológico consigo mesma.



[1] Para Aristóteles, a eudaimonia significa atingir o potencial pleno de realização de cada um. A felicidade é a meta da vida humana, tudo o que fazemos tem como motivo principal a busca da eudaimonia, que é o encaixe ético ao cosmos.

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