sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Filosofia e Religião

Filosofia e Religião

Filosofia e Religião são áreas de estudos desenvolvidas pelo homem/mulher com a finalidade de conhecer o mundo e suas possibilidades de vivência (filosofia) e de transcender a mesma naquilo que vai além do humano, sua busca por algo além do mundo e de si (teologia). A Filosofia se distingue da Teologia, tanto quanto ao objeto, quanto ao método. Mas é imprescindível estudar a relação dessas duas ciências visto que se pode afirmar que o homo sapiens se identifica muito como o homo religius.
Muitas teorias modernas e contemporâneas compreendem que deus seja uma construção humana para obter segurança e imortalidade. Contudo, a palavra deus não contém uma ideia rígida, imutável e pobre. A história nos mostra que cada geração tem de criar a imagem de Deus que funcione para ela, ou ainda, “se a ideia de Deus não tivesse tal flexibilidade, não teria sobrevivido e se tornado uma das grandes ideias humanas” (Karen Armstrong).
O fato é que a religião se separa em “definitivo” (campos separados, mas relacionados) da filosofia, no renascimento e subsequentemente no Iluminismo. E a partir de então podemos ver a distinção do pensar entre elas, embora nunca tenha deixado de haver filósofos que tenham sempre relacionados as duas após esse período. Antes dessa separação a divindade é tema presente na mitologia, nos filósofos pré socráticos, socráticos, pós-socráticos, em Sócrates/Platão, Aristóteles e estoicos. Com o surgimento do cristianismo e sua subsequente oficialização como religião do Império Romano (Imperador Constantino em 312 d.c.), a filosofia passa a ser uma “serva” do propósito maior que é Deus e seu Reino. Até o surgimento do renascimento, e mesmo após ele, o pensar filosófico estava sujeito ou atrelado ao fazer teologia.
Se a filosofia nasce de atitude de assombro do homem em relação às coisas do mundo, de um estado de encanto e surpresa, que o leva a procurar explicações para elas. Ela esbara no “sobrenatural”, que está além do visível, quando não do pensável, e aqui se constitui a dimensão teológica da filosofia. Deus se apresenta como tema filosófico desde os primórdios filosóficos, mas é nas religiões monoteístas (judaísmo, cristianismo e Islamismo) que ele é personificado. Platão e Aristóteles falam do divino como uma condição da alma ou organização cósmica. Essa relação intrínseca entre essas duas formas de pensar e ver o mundo geraram linhas de pensamento presente em nossas ideias cotidianas:

a)        A relação de Deus como o mundo, Deus como causa do mundo.
b)       A relação de Deus com a ordem moral, Deus como o bem.
c)        A relação de Deus consigo mesmo, Deus como sendo duplo, trino ou tudo.
d)        A relação de Deus com os homens, os acessos possíveis dos homens (religiões).
e)        A relação de Deus com o tempo, Deus como o ponto de partida temporal (Big Bang).

O Cristianismo surge como uma filosofia religiosa com bases na filosofia de Platão, já na Idade Média (V-XV), com a redescoberta de escritos de Aristóteles é realizado uma nova leitura cristã, por Tomás de Aquino, que realiza uma síntese do Cristianismo com a visão aristotélica do mundo (Jesus como causa e ordenação do mundo), explicava ele que: “toda a criação é boa, tudo o que existe é bom, por participar do ser de Deus; o mal é a ausência de uma perfeição devida e a essência do mal é a privação ou ausência do bem”. E em nossos dias, ele (o cristianismo), se apresenta separado da filosofia (embora a filosofia ainda dialogue com as religiões) ele não faz o mesmo, assim como as outras religiões fundamentalistas (Judaísmo e Islamismo).

Outra área de relação entre filosofia e religião é a temática presente entre ambas sobre Fé e Razão. No senso comum pensa se que uma exclui a outra, contudo, não é bem assim. Embora a razão seja antagônica a fé, a fé se alia a razão para reforçar e justificar sua própria existência. Fé=> é uma convicção acerca de algo ou de uma verdade que independe de prova empíricas. Já a Razão=> é a habilidade humana de traduzir o mundo real pela observação, intuição e experimentação científica partindo de premissas lógicas e coerentes. A separação ou exclusão entre ambas é difícil porque se vê explicitamente que o homem é um ser que almeja pelo conhecimento e é um ser que almeja a eternidade. E aqui nessa perspectiva temos as perguntas sem respostas definitivas desde os primórdios da filosofia, ou até mesmo antes dela, que são: Quem é o homem? De onde vem e para onde vai? Nestes termos, a fé e a razão devem, pois, ajudar o homem/mulher a encontrar o sentido necessário para sua existência e alcançar a “verdade”.  

Diversidade Social

Diversidade Social

A questão do preconceito sempre foi muito polêmica, mas esse debate tornou-se obrigatório e o silêncio sobre o assunto pode ser uma forma de se reproduzir posturas preconceituosas que emergem constantemente nas relações sociais.  Ainda em nosso quadro nacional que apresenta uma multiplicidade étnica e racial, provavelmente única no mundo, tanto em diversidade como em quantidade.
Um primeiro passo essencial a se dar, falando sobre preconceitos, é o de desnaturalizar o que não é natural nos processos e relações sociais. O senso comum comete o erro de naturalizar comportamentos e aspectos da cultura que na verdade, são resultantes de processos históricos. Ideologias e o senso comum naturalizam a realidade, escondendo a sua origem temporal e espacial. Assim, acredita-se ser natural a existência de ricos e pobres, ou justifica-se o racismo com base nas próprias diferenças de cor e aspectos físicos dos seres humanos. Desnaturalizar a realidade social significa recusar argumentos que justificam injustiças, e isso se faz pelo resgate dos conteúdos históricos pertinentes, e assim não deixar escapar a construção cultural dos sentimentos humanos, como ambição, o ciúmes, o amor romântico ou os preconceitos de todos os tipos.
A vivência social é representação social, e está é uma forma de conhecimento prático, que é constituído de conceitos e imagens sobre pessoas, práticas e fenômenos do cotidiano. Estas representações são naturais e inevitáveis no processo de convivência humana, e elas têm conotações positivas, neutras e negativas. Como a intensão aqui é falarmos sobre a diversidade social, temos de falar especificamente dos seus aspectos negativos, visto que socialmente tendemos a rejeitar ou impedir o diverso ou incomum. E para isso observemos três categorias negativas dessas representações sociais. 
Três categorias fundamentais
Minoria Social=> é todo grupo social, cultural ou de nacionalidade, autoconsciente, em procura de melhor status compartilhado do mesmo habitat, economia, ordem politica e social com outro grupo (racial, cultural ou de nacionalidade), que é dominante (econômica, politica ou socialmente) e que não aceita os membros do primeiro em igualdade de condições.
Preconceito=> é atitude social (aprendida) que surge em condições de conflito entre o que é  usualmente considerado padrão com a finalidade de auxiliar a manutenção do status ameaçado por aquele que não pertence ao mesmo.
Estigma[1]=> é uma marca, um rótulo que se atribui a pessoas com certos atributos de determinadas classes ou que pertença há uma categoria diversa, que tem como perspectiva uma desqualificação social. Os rótulos dos estigmas decorrem de preconceitos, que são ideias preconcebidas, cristalizadas, consolidadas no pensamento, por crenças e por negativas expectativas sócio individuais.
Ambos – preconceitos e estigmas – promovem e naturalizam palavras ou ações violentas. Preconceito por ser inflexível, rígido, imóvel e violento, visto que ele é uma rejeição de tudo que se difere e foge do modelo de pessoa, família ou grupo. E o estigma que é atribuído há grupos específicos na sociedade como os pobres, os meninos de rua, portadores de HIV, pessoas com necessidades especiais e, em nossa cultura acentuadamente, os homossexuais e outros grupos do gênero.
Sabe-se que a violência não se define somente no plano físico; violências como a ironia, à omissão e a indiferença não recebem no meio social, os mesmos limites, restrições ou punições que os atos físicos de violência. Entretanto, essas “armas” de repercussão psicológica e emocional são de efeito tão ou mais profundo que o das armas que atingem e ferem o corpo, porque as armas  da ironia ferem um valor precioso do ser humano: a autoestima. Um bom remédio (provavelmente o mais eficaz) contra o preconceito e o estigma, seria o de fazermos análises criticas dessas significações e suas historicidades, identificando causas e motivações, percebendo os mesmos como transmissões culturais aprendidas que podem ser desaprendidas. Desse processo de ressignificações podem surgir novos conceitos, mais reais, mais consistentes, mais abertos e flexíveis e, portanto, mais humanos. As novas ressignificações por uma vida, uma conivência e uma consciência social mais inclusivas requerem, sobretudo, atitudes que assumam um dos valores mais expressivos dos tempos contemporâneos: a aceitação da pluralidade.
Raça, Etnia e Racismo
A ideia de raça surgiu aproximadamente no século XVIII, portanto, é uma categoria construída há pouco tempo e não tem muita relação com a natureza humana, mas com interpretações variadas acerca da diversidade humana e suas consequências. A partir disso postulou se que a desigualdade humana também deveria ter uma origem natural e a noção de raça tornou-se explicação biológica para a diversidade cultural e humana. A sociedade brasileira é “racializada”, inclusive como distinção e divisão espacial, social e econômica. Por exemplo, os negros e pardos, no Brasil são menos da metade da população, mas 64% dos pobres e 69% dos indigentes são negros. Com o mesmo nível de formação de um branco, um trabalhador negro ganha 54% a menos. A mulher negra recebe salario 49,5% menor do que o de uma branca. 27% dos estudantes da população negra, entre 11 e 14 anos, estão entre o 6º e 9º ano, enquanto, entre os brancos o índice é de 44%. A taxa de analfabetismo é três vezes maior entre os negros.
Numa perspectiva cientifica, não é possível naturalizar e justificar está condição social e educacional entre negros e brancos, é necessário, por isso, perceber que tal situação resulta de um processo histórico. Se pensarmos os conceitos de etnia e raça, tendo uma definição mais exata como referência. Sendo a Etnia=> caracterizada por fatores culturais como tradição, língua e identidade, e Raça=> como fatores biológicos como a cor da pele, formato da cabeça, o tipo de cabelo, traços e formatos específicos de olhos, cabelos e rosto. Assim pessoas de uma mesma etnia podem pertencer a raças diferentes e, infelizmente, usamos a raça como referência de classificação[2] para aceitação ou rejeição.
Pensamos normalmente que o Brasil foi formado por apenas três etnias (Indígenas, brancos e africanos), o que fica omitido é que somos um país pluriétnico em todos os sentidos possíveis. Vejam, os indígenas não compõem uma etnia única. Os indígenas no Brasil possuíam milhares de etnias, com uma enorme diversidade linguística e cultural, ainda hoje temos mais de duzentas etnias indígenas (já foram mais de cinco mil). As populações africanas que foram trazidas para o Brasil pertenciam a inúmeras etnias portadoras de costumes, crenças e idiomas diferentes. E também a população branca[3] também não é originária de uma mesma etnia. Os primeiros eram portugueses, depois vieram os italianos, alemães, holandeses, japoneses, franceses. “O estranhamento étnico no Brasil era de ser esperado. A discriminação é que causa estranheza”. É só pensarmos nossa experiência linguística, ela é composta pela adoção de palavras originárias das muitas etnias que compõem o País.
Já o racismo=> é a tendência a considerar raças distintas como superiores umas as outras; ou pensar que características físicas são determinantes de traços de caráter, posse de inteligência ou qualquer outra determinação social; também a crença na existência de raças superiores e inferiores foram utilizadas para justificar a escravidão, o domínio de determinados povos por outros e os genocídios que ocorreram durante toda a história da humanidade. A questão é que a noção de “raça” não possui nenhum fundamento biológico. Não há nenhuma prova cientifica da existência de raças diferentes (genética). A Biologia só identificou uma raça: a raça humana. “A importância que o ser humano dá à cor da pele do seu semelhante é inominável”. A diferença de cor entre as pessoas tem uma explicação cientifica para a qual o homem/mulher não contribui minimamente. Está diferença seria a maior ou menor concentração de melanina da pele, que torna a pele da pessoa mais escura ou mais clara.    




[1][1] O estigma deriva da ideia de modelo humano perfeito (pessoa ideal – Platão), contudo, isso é ilusório. Uma comprovação clara disso é o uso e prática frequente de cosméticos, cirurgias e academias. 
[2] Lembre-se do tema Determinação Estético Cultural do Belo.
[3] Mesmo os italianos, alemães, holandeses, franceses, portugueses, espanhóis e outros são etnias formadas pela mistura de outros povos étnicos em si. A etnia italiana é composta por mais de 15 etnias. A França no mínimo 5 etnias. A Alemanha por uma inumerável quantidade de tribos germânicas, juntamente com os celtas e eslavos. Até mesmo os japoneses contam com 4 etnias, talvez mais.  

domingo, 7 de agosto de 2016

A Instituição da Família

A Instituição da Família

Pensar a família é, primariamente, configurar nossa ideia sobre a mesma ao modelo de família nuclear sobre ela existente (pai, mãe e filhos), contudo tentaremos explicitar aqui que a historia desse modelo familiar é recente e que houveram muitos outros modelos no decorrer dos tempos, e que, também haverá outros modelos nos tempos por vir, o que na verdade já estamos presenciando.
A família é entendida como um grupo de pessoas de convivência doméstica tendo por referência relações de parentesco, consanguinidade ou adoção, e que tem por funções essenciais e fundamentais a educação e o cuidado dos menores (crianças e adolescentes), também garantidos e exigidos por lei (ECA). É nela onde se forma nossa primeira identidade social, sendo a família a mediadora entre o individuo e a sociedade.
Dentre os animais existentes e conhecidos sobre a face da Terra, o homem é o mais dependente ao nascer. E, é na família que acontece esse processo de acolher, cuidar e encaminhar. É preciso refletir que a família não é algo natural, biológico, mas uma instituição criada pelos homens/mulheres em suas relações sociais, e que por isso estará sempre sujeitas as condições sociais que a permeiam e por consequência delimitam sua existência e convivência. Nos dois últimos séculos os novos meios de produção (Karl Marx) e vivência sócio econômico mudaram esse modelo familiar, obrigando a mulher a se introduzir sempre mais no mercado de trabalho, e assim modicando esse modelo de família que deixa o processo de socialização da criança como instância terceirizada (creches, escolas, avós, natação, inglês, informática, e outros). Vivemos também uma mudança estrutural das relações e convivências entre as gerações propiciadas pela natural passagem do tempo e mudança das convivências humanas, mas que em nossos dias são hiper aceleradas pelo advento das tecnologias móveis que destroçaram nossas noções de tempo, espaço e convivência. E isso inevitavelmente mexeu nas estruturas da família.
E aqui está a grande questão das discussões contemporâneas sobre a família, pois se cobram dela responsabilidades que ela não tem mais condições de assumir, não como o fez em outros tempos em outras estruturas (família nuclear). Pensemos numa família que tenha dois ou três filhos que dependam unicamente da mãe, onde as crianças fiquem na creche durante o dia e sob o cuidado das mais velhas nos outros períodos. Ainda se levarmos em conta que não temos mais a garantia da presença dessa mãe durante os finais de semana devido às novas configurações do mercado de trabalho. Aqui acontece uma queda de braço que já dura décadas, desde essas novas configurações familiares, que é a cobrança das escolas e outras instituições sociais e legais quanto a participação dos pais na educação (escolar e social) dos filhos, e que atribui a ausência da família o baixo rendimento escolar dos mesmos, ou também seu comportamento reprovável socialmente. Porém, essa nova família espera que a creche, a escola e alguma outra instituição assumam esse papel socializador.  
Friedrich Engels, em sua obra A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado em 1884, elaborou a formulação materialista dialética sobre a gênese da família e suas funções, que analisa como chegamos em nosso modelo familiar monogâmico, que foi determinado diretamente pelo aparecimento da propriedade privada, pois segundo ele, a família se transmutou do modelo familiar grupal nas sociedades primitivas (gens) para um modelo familiar monogâmico (casamento) que tinha por finalidade a preservação e transmissão da herança (acumulação material obtida) a filhos legítimos do homem que só seria possível com um exclusivismo da sexualidade da mulher no âmbito do casamento, tornando uma regra máxima a virgindade e fidelidade conjugal da mulher. Podemos falar de amor no âmbito familiar (entre o casal e desses com os filhos), mas esse amor surge como uma instância secundaria a necessidade primária de preservação do patrimônio familiar herdado. Parece-nos um absurdo os casamentos arranjados da Idade Média e Moderna, contudo fazia todo sentido e nexo para os contextos sociais e familiares da época, pois “A monogamia surgiu da concentração de grandes riquezas nas mesmas mãos – as de um homem – e do desejo de transmitir essas riquezas, por herança, aos filhos desse homem, excluídos os filhos de qualquer outro”[1].
As famílias primitivas apresentavam modelos familiares e sexuais diversos, por exemplo: “cada 10 ou 12 homens têm mulheres em comum entre si, com a particularidade de, na maioria dos casos, serem irmãos e irmãs, pais e filhos”[2], e devido a isso nessas “formas de família por grupos, não se pode saber com certeza quem é o pai de uma criança, mas sabe-se quem é a mãe, reconhecendo se apenas a linhagem feminina”[3]. Na Austrália, onde também houve a presença desse modelo familiar era muito natural uma “lei segundo a qual quem tem varias mulheres cedesse uma a seu hospede para ele passar a noite”[4]. Outra situação interessante que se apresenta é o rapto de mulheres em que “quando um jovem, com a ajuda de seus amigos, rapta ou seduz uma jovem, com a ajuda de amigos, ela é usada sexualmente por todos eles, um após o outro, mas depois passa a ser esposa daquele que coordenou o rapto”[5]. Também “em outros povos, os amigos e parentes do noivo ou os convidados à celebração das núpcias exercem, durante a própria celebração, o direito a noiva, por tradição antiga, e o noivo só vem em último lugar”[6], “Há povos ainda em que uma personalidade oficial – chefe da tribo ou da gens, cacique, xamã, sacerdote, príncipe ou como se possa chamar – representa a comunidade e exerce com a noiva o direito da primeira noite”[7]. Claro está que as formas de convivências sexuais, amorosas e familiares foram se modificando durante os tempos e assumindo diversas formas que não poderemos enumerar aqui neste texto, por isso também Engels apontava o amor sexual (dos seus dias até hoje) como um ineditismo histórico “A nova monogamia que resultou da mistura dos povos, sobre as ruinas do mundo romano, revestiu a dominação do homem de formas mais suaves e atribui às mulheres uma posição muito mais respeitada e livre, pelo menos aparentemente, do que aquelas que já conhecera na Antiguidade clássica. Só então passou a existir a possibilidade, a partir da monogamia – dentro dela, ao lado dela ou contra ela, conforme as circunstâncias – de se desenvolver o maior progresso moral que lhe devemos: o amor sexual individual moderno, anteriormente desconhecido no mundo.”[8], assim como podemos apontar as novas formatações sexuais e amorosas em nosso dias como uma outra transformação histórica.
Uma previsão que Engels postulou (citando Morgan) em seu texto, há mais de cento trinta anos, se cumpre visivelmente em nossos tempos, veja: “Quando aceitar o fato de que a família passou por quatro formas sucessivas e agora se encontra na quinta, surge logo à pergunta se essa forma pode ser permanente no futuro. A única resposta que pode ser dada é que a família terá de progredir na medida em que a sociedade se modifica, exatamente como aconteceu no passado. A família é produto do sistema social e refletirá sua cultura. Como a família monogâmica se aperfeiçoou consideravelmente desde o começo da civilização e, de maneira realmente notável nos tempos modernos, é licito pelo menos supor que seja capaz de continuar seu aperfeiçoamento até que a igualdade entre os dois sexos seja atingida. Se, num futuro distante, a família monogâmica não mais atender às exigências sociais, é impossível predizer a natureza da família que irá sucedê-la.”[9]
Assim, podemos concluir pelo que foi descrito que a família precisa ser pensada em uma nova configuração, e que está precisa levar em consideração a história e condição social da qual faz parte como determinante das condições de sua existência. Também podemos com as novas informações desmistificar a ideia da destruição da família nuclear como sendo a destruição da família e dos fins dos tempos da existência/convivência humana. Certamente, como fizemos antes, encontraremos, intencionalmente ou não, novas formas de fazer o que nós seres humanos sempre fizemos (por amor ou outros motivos) e que isso nos levará a estabelecer novas conjecturas, configurações e adequações para o viver e conviver na família nos século XXI, XXII, XXIII e dai por diante.



[1] Friedrich Engels, A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado, pag. 73
[2] Friedrich Engels, A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado, pag. 43.
[3] Friedrich Engels, A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado, pag. 44
[4] Friedrich Engels, A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado, pag. 45
[5] Friedrich Engels, A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado, pag. 47
[6] Friedrich Engels, A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado, pag. 53
[7] Friedrich Engels, A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado, pag. 53
[8] Friedrich Engels, A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado, pag. 68
[9] Friedrich Engels, A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado, pag. 81

Sociologia do Trabalho

Sociologia do trabalho

A Sociologia do Trabalho estuda as relações sociais de trabalho, os fenômenos resultantes de tais relações e o papel dos sujeitos ou agentes envolvidos nas relações e ambientes de trabalho.
Ao analisarmos a temática do trabalho, deparamo-nos com um paradoxo, uma contradição; ao mesmo tempo em que o trabalho constrói o homem/mulher, ele também destrói. Dessa maneira, primeiramente iremos analisar de que modo o trabalho é um fator positivo para a estruturação dos homens e dos grupos sociais e de que modo o trabalho é um fator de negação da potencialidade humana.
O trabalho é a forma fundante do ser social, forma primeira da atividade humana, da práxis. Nesse sentido, o trabalho se torna humano através da atividade de intercambio entre o homem/mulher e a natureza, no qual ele a transforma de acordo com as suas necessidades e simultaneamente ele também é transformado.
O trabalho é também uma atividade essencialmente humana, devido ao fato de que ele é dotado de teleologia: o trabalho é um projeto que é previamente planejado de modo intencional pela mente do homem, como ser da práxis, visando uma determinada finalidade. Esse é o fator que diferencia o trabalho humano do trabalho de todos os outros animais: ele é intencional.
Enquanto o homem/mulher adapta a natureza em função da satisfação das suas necessidades, o animal adapta-se à natureza, desfrutando das condições que ela lhe oferece. Se pensarmos no pássaro joão-de-barro, ou na abelha, ou na aranha, etc., eles sempre constroem suas moradias do mesmo modo, através de seu trabalho, que nunca se complexifica e que é resultado da objetividade de um instinto. Já os homens/mulheres executam construções que a cada dia que passa vão sendo cada vez mais complexas, e na medida em que os mesmos vão aperfeiçoando-as em suas projeções mentais, visto que a construção realizada pelo humano é resultado da objetividade de sua subjetividade e também é influenciada pelas relações sociais às quais ele é constantemente submetido. Assim, através do trabalho, os homens/mulheres vão produzindo historicamente a sua existência e suas relações sociais. Essa é a positividade do trabalho do humano criativo, portanto, a positividade do trabalho o revela como uma atividade que funda o homem/mulher como ser social, que é calcada no princípio da criatividade. Nesse sentido, podemos perceber sua dimensão qualitativa, que se distingue pela habilidade de inovar e melhorar a existência/convivência, que é a intencionalidade de toda e qualquer produção de bens socialmente úteis, realizada pelo humano.
Prosseguiremos então com o trabalho como fator de negação da potencialidade humana. Na nossa sociedade capitalista, os homens/mulheres produzem historicamente sua existência através do trabalho. Para que isso aconteça, através do trabalho que eles executam e também de acordo com sua história, eles são divididos socialmente entre duas classes que apresentam interesses antagônicos(Karl Marx).
Uma classe é a dos proprietários dos meios de produção, ou seja, dos capitalistas, e a outra é a dos possuidores apenas de sua força de trabalho, que são os proletários. A relação entre ambas expressa uma notável relação de desigualdade social e econômica. Como exemplos dessa afirmação, temos dois fenômenos: o primeiro é que o trabalhador proletário trabalha sobre o controle do proprietário capitalista e o segundo é que o produto produzido diretamente pelo proletário não é propriedade dele, mas sim dos proprietários capitalistas. Por conseguinte, o resultado final do trabalho não pertence aos trabalhadores; o trabalho então tem caráter exterior ao do trabalhador. Essa é então, uma manifestação de alienação. Para o trabalhador proletário, o trabalho é algo penoso, que o remete ao sacrifício.
As condições que regem o capitalismo e determinam o processo de trabalho causam a alienação do trabalhador. Consequentemente o proletário não consegue se reconhecer enquanto sujeito do produto do seu trabalho, pois ele não decide nem mesmo sobre o que, quando, como, para que e para quem produzir.
Nas relações de produção a alienação acontece de vários modos e o estranhamento é a forma especifica de alienação no sistema capitalista. O trabalhador produz algo estranho, que não é seu, que ele não pode possuir, que ele não consegue se ver como produtor direto do seu trabalho determinado, é  algo que  produz para alguém estranho (que geralmente é o detentor dos meios de produção), que na maioria das vezes ele nem conhece. Nestes termos, esse trabalhador proletário, que vive do seu trabalho e para o seu trabalho, é transformado pelas relações sociais e pelas relações de produção em mera mercadoria. Ele é cada vez mais explorado e sempre desvinculado do produto de seu trabalho quando esta produzindo para o “outro”.
Há então, um processo de humanização da coisa e coisificação do humano, criando o fetichismo da mercadoria e a consequente desumanização dos indivíduos envolvidos em tal processo. A coisa, ou seja, o produto, adquire uma certa ‘humanização’, uma vida própria. Já os trabalhadores que produziram a coisa, são cada vez mais desumanizados em detrimento do que produziram. Sua subjetividade e importância enquanto ser humano é descartada. Apenas o que interessa para os detentores dos meios de produção, é à força de trabalho dos trabalhadores. E para os trabalhadores, alienados pelo processo de trabalho no qual eles estão inseridos, somente interessa a mínima quantia que eles recebem para prover o sustento deles e de suas respectivas famílias.
Portanto, a dimensão negativa do trabalho o revela como fator de coisificação da potencialidade humana no capitalismo, como atividade que foi transformada em labor, sacrifício, objetificação, devido à sobreposição de sua dimensão quantitativa em relação à qualitativa. Ambas as dimensões se distinguem apenas pelo “quantum” socialmente materializado na mercadoria, que é o que prevalece no capitalismo. Todo esse contexto traz como consequências o fato do trabalhador não se reconhecer enquanto sujeito do produto de seu trabalho, que acaba por negar sua dimensão de ser social e também pelo fato de seu trabalho pertencer a outrem e não a ele mesmo.

Nestes termos, marxistas, propostos, precisamos não reduzir o olhar. Evidente que, de Marx para cá houveram muitas mudanças e novas e estruturações do trabalho, mesmo que em essência (as relações de trabalho) não se tenha modificado. Mas, em nossos dias as sociedades não se dividem em duas classes econômicas somente, na maior parte do mundo pensa se em três classes sociais objetivas (alta, média e baixa), em alguns países, como o Brasil, se configuram em mais classes (A, B, C, D e E). Outra  transformação que precisa ficar clara é a de que não existe somente o propriedade dos bens de trabalho como aquele que fica com o ganho real daquilo que é produzido, hoje temos grandes redes de distribuição dos bens produzidos (negociantes) e também um mercado gerenciador (bolsas de valores) das empresas responsáveis pela produção dos meios de sobrevivência e boa vivência do homem/mulher modernos. O que exigiria uma atualização das análises trabalhistas feitas por Karl Marx nos século XIX.