Sociologia do trabalho
A Sociologia do Trabalho estuda
as relações sociais de trabalho, os fenômenos resultantes de tais relações e o
papel dos sujeitos ou agentes envolvidos nas relações e ambientes de trabalho.
Ao analisarmos a temática do
trabalho, deparamo-nos com um paradoxo, uma contradição; ao mesmo tempo em que
o trabalho constrói o homem/mulher, ele também destrói. Dessa maneira,
primeiramente iremos analisar de que modo o trabalho é um fator positivo para a
estruturação dos homens e dos grupos sociais e de que modo o trabalho é um
fator de negação da potencialidade humana.
O trabalho é a forma fundante do
ser social, forma primeira da atividade humana, da práxis. Nesse sentido, o
trabalho se torna humano através da atividade de intercambio entre o homem/mulher
e a natureza, no qual ele a transforma de acordo com as suas necessidades e
simultaneamente ele também é transformado.
O trabalho é também uma atividade
essencialmente humana, devido ao fato de que ele é dotado de teleologia: o
trabalho é um projeto que é previamente planejado de modo intencional pela
mente do homem, como ser da práxis, visando uma determinada finalidade. Esse é
o fator que diferencia o trabalho humano do trabalho de todos os outros
animais: ele é intencional.
Enquanto o homem/mulher adapta a
natureza em função da satisfação das suas necessidades, o animal adapta-se à
natureza, desfrutando das condições que ela lhe oferece. Se pensarmos no
pássaro joão-de-barro, ou na abelha, ou na aranha, etc., eles sempre constroem
suas moradias do mesmo modo, através de seu trabalho, que nunca se complexifica
e que é resultado da objetividade de um instinto. Já os homens/mulheres
executam construções que a cada dia que passa vão sendo cada vez mais complexas,
e na medida em que os mesmos vão aperfeiçoando-as em suas projeções mentais,
visto que a construção realizada pelo humano é resultado da objetividade de sua
subjetividade e também é influenciada pelas relações sociais às quais ele é
constantemente submetido. Assim, através do trabalho, os homens/mulheres vão
produzindo historicamente a sua existência e suas relações sociais. Essa é a
positividade do trabalho do humano criativo, portanto, a positividade do
trabalho o revela como uma atividade que funda o homem/mulher como ser social,
que é calcada no princípio da criatividade. Nesse sentido, podemos perceber sua
dimensão qualitativa, que se distingue pela habilidade de inovar e melhorar a existência/convivência,
que é a intencionalidade de toda e qualquer produção de bens socialmente úteis,
realizada pelo humano.
Prosseguiremos então com o
trabalho como fator de negação da potencialidade humana. Na nossa sociedade
capitalista, os homens/mulheres produzem historicamente sua existência através
do trabalho. Para que isso aconteça, através do trabalho que eles executam e
também de acordo com sua história, eles são divididos socialmente entre duas
classes que apresentam interesses antagônicos(Karl Marx).
Uma classe é a dos proprietários
dos meios de produção, ou seja, dos capitalistas, e a outra é a dos possuidores
apenas de sua força de trabalho, que são os proletários. A relação entre ambas
expressa uma notável relação de desigualdade social e econômica. Como exemplos
dessa afirmação, temos dois fenômenos: o primeiro é que o trabalhador
proletário trabalha sobre o controle do proprietário capitalista e o segundo é
que o produto produzido diretamente pelo proletário não é propriedade dele, mas
sim dos proprietários capitalistas. Por conseguinte, o resultado final do
trabalho não pertence aos trabalhadores; o trabalho então tem caráter exterior
ao do trabalhador. Essa é então, uma manifestação de alienação. Para o
trabalhador proletário, o trabalho é algo penoso, que o remete ao sacrifício.
As condições que regem o
capitalismo e determinam o processo de trabalho causam a alienação do
trabalhador. Consequentemente o proletário não consegue se reconhecer enquanto
sujeito do produto do seu trabalho, pois ele não decide nem mesmo sobre o que, quando,
como, para que e para quem produzir.
Nas relações de produção a
alienação acontece de vários modos e o estranhamento é a forma especifica de
alienação no sistema capitalista. O trabalhador produz algo estranho, que não é
seu, que ele não pode possuir, que ele não consegue se ver como produtor direto
do seu trabalho determinado, é algo que produz para alguém estranho (que geralmente é
o detentor dos meios de produção), que na maioria das vezes ele nem conhece.
Nestes termos, esse trabalhador proletário, que vive do seu trabalho e para o
seu trabalho, é transformado pelas relações sociais e pelas relações de
produção em mera mercadoria. Ele é cada vez mais explorado e sempre
desvinculado do produto de seu trabalho quando esta produzindo para o “outro”.
Há então, um processo de
humanização da coisa e coisificação do humano, criando o fetichismo da
mercadoria e a consequente desumanização dos indivíduos envolvidos em tal
processo. A coisa, ou seja, o produto, adquire uma certa ‘humanização’, uma
vida própria. Já os trabalhadores que produziram a coisa, são cada vez mais
desumanizados em detrimento do que produziram. Sua subjetividade e importância
enquanto ser humano é descartada. Apenas o que interessa para os detentores dos
meios de produção, é à força de trabalho dos trabalhadores. E para os
trabalhadores, alienados pelo processo de trabalho no qual eles estão
inseridos, somente interessa a mínima quantia que eles recebem para prover o
sustento deles e de suas respectivas famílias.
Portanto, a dimensão negativa do
trabalho o revela como fator de coisificação da potencialidade humana no
capitalismo, como atividade que foi transformada em labor, sacrifício,
objetificação, devido à sobreposição de sua dimensão quantitativa em relação à
qualitativa. Ambas as dimensões se distinguem apenas pelo “quantum” socialmente
materializado na mercadoria, que é o que prevalece no capitalismo. Todo esse
contexto traz como consequências o fato do trabalhador não se reconhecer
enquanto sujeito do produto de seu trabalho, que acaba por negar sua dimensão
de ser social e também pelo fato de seu trabalho pertencer a outrem e não a ele
mesmo.
Nestes termos, marxistas, propostos,
precisamos não reduzir o olhar. Evidente que, de Marx para cá houveram muitas mudanças
e novas e estruturações do trabalho, mesmo que em essência (as relações de
trabalho) não se tenha modificado. Mas, em nossos dias as sociedades não se
dividem em duas classes econômicas somente, na maior parte do mundo pensa se em
três classes sociais objetivas (alta, média e baixa), em alguns países, como o
Brasil, se configuram em mais classes (A, B, C, D e E). Outra transformação que precisa ficar clara é a de
que não existe somente o propriedade dos bens de trabalho como aquele que fica
com o ganho real daquilo que é produzido, hoje temos grandes redes de
distribuição dos bens produzidos (negociantes) e também um mercado gerenciador (bolsas
de valores) das empresas responsáveis pela produção dos meios de sobrevivência e
boa vivência do homem/mulher modernos. O que exigiria uma atualização das análises
trabalhistas feitas por Karl Marx nos século XIX.
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