quarta-feira, 11 de maio de 2016

Consumo e Consumismo

Consumo e Felicidade
“A terra pode oferecer o suficiente para satisfazer as necessidades de todos os homens, mas não a ganancia de todos os homens.” (M. Gandhi)
“Não há drama no fato de alguém não poder comprar marcas e luxo; o drama é a vida não ter outro ideal senão o consumo.” (Giles Lipovestsky)
Consumo e Consumismo
Consumir, possuir, obter, acumular são verbos possessivos de uma significância e importância social que condicionam nossa vivência e existência. Consumo e consumismo são termos paralelos de significados excludentes. Consumir é uma necessidade humana e consumismo é prioridade exacerbada que se dá a consumir o que não é essencial. Consumismo é uma forma alienada e inconsciente de fazer do paradigma do mercado (ter mais e mais) a posição mais alta da hierarquia de valores humanos.
O consumismo é considerado uma patologia por ter implicações emocionais, psicológicas relacionadas à baixa autoestima e problemas de relacionamentos humanos e afetivos. Ele revela na sociedade contemporânea, consequências mentais de alienação, exploração, econômica, problemas ambientais, impactos culturais, manipulação comportamental e aumento das desigualdades sociais.
O filósofo Giles Lipovestisky, em seu livro A Sociedade da Decepção, analisa a espiral da frustração humana, a maneira sistemática como o homem/mulher (humanidade) forja para si em parâmetros sociais e globais (sobrepujados pelo econômico) conceitos de vida feliz não alcançável. A fórmula encontrada pelo filósofo para caracterizar o hipermoderno é simples e eficaz: o mais e menos ao mesmo tempo. Nunca se buscou tanto a magreza e nunca se teve tantos obesos[1].   Convivemos continuamente com a desagradável sensação de desconforto público gerada pela sensação e percepção que o outro tem o que não podemos. E a questão central nessa sociedade da decepção é que o aumento de consumo não propicia aumento da felicidade, basta olhar os altos índices de suicídio em países com os mais altos padrões/qualidade de vida.
A população mundial demorou dezenas de anos para atingir 1 bilhão de habitantes (1800) e em 200 anos atingiu a cifra de 7 bilhões. Os adventos históricos Iluminismo/Revolução Industrial/Capitalismo/Globalização alavancou e globalizou a desigualdade e por isso é que há cada vez maiores diferenças entre os países ricos e pobres (Neoliberalismo - pró e contra).
Um conceito premente na sociedade moderna é o da qualidade de vida que condiciona ser mais feliz e gozar de maior qualidade de vida como sendo pleonasmo. Embutido a ideia de qualidade de vida está a ideia de dinheiro como felicidade, e defendemos uma nos jogando nos braços da outra fugindo de uma e buscando a outra, contudo ambas tem os mesmos efeitos.
Felicidade: Uma perspectiva sociológica
A felicidade e seus conceitos derivativos estão localizados hoje, como foram antes em todas as outras sociedades históricas, no tempo e no espaço. Pensar em ser feliz e estar bem em São Paulo seria diferente de ser feliz em Campinas, São Carlos e etc. contudo, houve uma padronização conceitual de valores e culturas no que diz respeito a definição da boa vida, medida as proporções, tanto em São Paulo, como em Tóquio ou Nova Iorque. O homem/mulher contemporâneo é humano virtual, conceitual e líquido. Assim, o ser feliz esta condicionado a moldes já estruturados e definidos a priori de si, da própria consciência e do próprio desejo. É preciso consciência e muita força de vontade para não sucumbir ao uso desenfreado das novas tecnologias (celular, principalmente) sem deixar que as mesmas ditem os padrões de modelos de nossa existência. Seria o mesmo para a insistente busca do corpo perfeito. Esbelto, silhueta contornada e quadris salientes como padrão de beleza da cultura industrializada (globalizada). Como diz Lipovetsky: cada um pode fazer o que bem entender e ser o que bem quiser, mas é quase impossível encontrar uma mulher que queira ser gorda. A sociedade hipermoderna cria novas imposições e cobra novas posturas. A liberdade (social) pode ter um preço muito alto: a frustração.
O futuro da sociedade de consumo é incerto, o que sabemos é que ela uma etapa histórica como tantas outras. A questão é o que sobrará de mundo e quem será o homem após ela. Não há recursos ambientais, econômicos, industriais, espaciais, sociais e humanos para realizar a felicidade propagada como necessária ou boa para todos. Assim, numa perspectiva social precisamos perceber que a felicidade é discurso construído historicamente e socialmente (global), e que ter consciência dessa construção já nos possibilita pensar a mesma para se ajustar, negar ou até mesmo reformular em pró de um discurso mais condizente com um eu existente em uma sociedade orgástica.




[1] Gilles Lipovetsky. A Sociedade da Decepção.

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