Consumo e Felicidade
“A terra pode oferecer
o suficiente para satisfazer as necessidades de todos os homens, mas não a
ganancia de todos os homens.” (M. Gandhi)
“Não há drama no fato
de alguém não poder comprar marcas e luxo; o drama é a vida não ter outro ideal
senão o consumo.” (Giles
Lipovestsky)
Consumo e
Consumismo
Consumir, possuir, obter, acumular são verbos possessivos de
uma significância e importância social que condicionam nossa vivência e
existência. Consumo e consumismo são termos paralelos de significados excludentes.
Consumir é uma necessidade humana e consumismo é prioridade exacerbada que se
dá a consumir o que não é essencial. Consumismo é uma forma alienada e
inconsciente de fazer do paradigma do mercado (ter mais e mais) a posição mais
alta da hierarquia de valores humanos.
O consumismo é considerado uma patologia por ter implicações
emocionais, psicológicas relacionadas à baixa autoestima e problemas de
relacionamentos humanos e afetivos. Ele revela na sociedade contemporânea,
consequências mentais de alienação, exploração, econômica, problemas
ambientais, impactos culturais, manipulação comportamental e aumento das
desigualdades sociais.
O filósofo Giles Lipovestisky, em seu livro A Sociedade da Decepção, analisa a
espiral da frustração humana, a maneira sistemática como o homem/mulher
(humanidade) forja para si em parâmetros sociais e globais (sobrepujados pelo
econômico) conceitos de vida feliz não alcançável. A fórmula encontrada pelo filósofo para caracterizar o hipermoderno é
simples e eficaz: o mais e menos ao mesmo tempo. Nunca se buscou tanto a
magreza e nunca se teve tantos obesos[1]. Convivemos continuamente com a desagradável
sensação de desconforto público gerada pela sensação e percepção que o outro
tem o que não podemos. E a questão central nessa sociedade da decepção é que o
aumento de consumo não propicia aumento da felicidade, basta olhar os altos
índices de suicídio em países com os mais altos padrões/qualidade de vida.
A população mundial demorou dezenas de anos para atingir 1
bilhão de habitantes (1800) e em 200 anos atingiu a cifra de 7 bilhões. Os
adventos históricos Iluminismo/Revolução Industrial/Capitalismo/Globalização
alavancou e globalizou a desigualdade e por isso é que há cada vez maiores
diferenças entre os países ricos e pobres (Neoliberalismo - pró e contra).
Um conceito premente na sociedade moderna é o da qualidade de
vida que condiciona ser mais feliz e gozar de maior qualidade de vida como
sendo pleonasmo. Embutido a ideia de qualidade de vida está a ideia de dinheiro
como felicidade, e defendemos uma nos jogando nos braços da outra fugindo de
uma e buscando a outra, contudo ambas tem os mesmos efeitos.
Felicidade: Uma perspectiva sociológica
A felicidade e seus conceitos derivativos estão localizados
hoje, como foram antes em todas as outras sociedades históricas, no tempo e no
espaço. Pensar em ser feliz e estar bem em São Paulo seria diferente de ser
feliz em Campinas, São Carlos e etc. contudo, houve uma padronização conceitual
de valores e culturas no que diz respeito a definição da boa vida, medida as
proporções, tanto em São Paulo, como em Tóquio ou Nova Iorque. O homem/mulher
contemporâneo é humano virtual, conceitual e líquido. Assim, o ser feliz esta
condicionado a moldes já estruturados e definidos a priori de si, da própria
consciência e do próprio desejo. É preciso consciência e muita força de vontade
para não sucumbir ao uso desenfreado das novas tecnologias (celular,
principalmente) sem deixar que as mesmas ditem os padrões de modelos de nossa
existência. Seria o mesmo para a insistente busca do corpo perfeito. Esbelto,
silhueta contornada e quadris salientes como padrão de beleza da cultura
industrializada (globalizada). Como diz Lipovetsky: cada um pode fazer o que bem entender e ser o que bem quiser, mas é
quase impossível encontrar uma mulher que queira ser gorda. A sociedade
hipermoderna cria novas imposições e cobra novas posturas. A liberdade (social)
pode ter um preço muito alto: a frustração.
O futuro da sociedade de consumo é incerto, o que sabemos é
que ela uma etapa histórica como tantas outras. A questão é o que sobrará de
mundo e quem será o homem após ela. Não há recursos ambientais, econômicos,
industriais, espaciais, sociais e humanos para realizar a felicidade propagada
como necessária ou boa para todos. Assim, numa perspectiva social precisamos
perceber que a felicidade é discurso construído historicamente e socialmente
(global), e que ter consciência dessa construção já nos possibilita pensar a
mesma para se ajustar, negar ou até mesmo reformular em pró de um discurso mais
condizente com um eu existente em uma sociedade orgástica.
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