sábado, 29 de outubro de 2016

Filosofia, Estética e Arte


Filosofia, Estética e Arte

Já frisamos que a filosofia (amor ao saber) tem por proposta, como construção humana, conhecer, entender e explicar o homem, o mundo e as realidades que se lhe apresentam enquanto condicionado e determinante do mesmo mundo e realidades. A Arte (para os gregos techné) é outra dimensão desta condição filosofante do humano no decorrer da história, e seu grande propósito seria o de definir o que é o Belo. O Belo é o belo em si ou a percepção que se tem do que se diz que ser belo?
Aisthésis (percepção) conhecido como estética, é a área da filosofia que estuda o sentido, a busca e a reprodução do belo na arte, pois este fenômeno estético envolve a percepção, a interpretação, o julgamento e a emoção relacionados ao que consideramos belo. A Arte, que era vista como uma cópia da realidade se apresenta como produção de um sujeito que interpreta o mundo ao seu redor.
Para os gregos – Plotino, Platão e Aristóteles – a arte e estética estavam diretamente ligadas à ética e à lógica. Para Plotino o belo é o ajustamento ao que é ético, justo e bom no próprio ser (natureza do bem). Para Platão o belo é a verdade e, portanto é bom, como ele deriva da alma, o belo é bom porque é a manifestação da alma (divina). Para Aristóteles o belo está, como tudo, relacionado ao Cosmos (ordem e finalidade) e é assim a representação perfeita desse cosmos (a arte é cosmética), e sendo o cosmos universal, o que era belo deveria ser belo para todos.
Na Modernidade (razão) o belo é uma expressão da harmonia criadora, o talento mais a inspiração. A arte é um derivativo da subjetividade humana em objetividade realizadora no mundo. Nestes termos, temos a Teoria do Belo como representação inteligível do subjetivo, que depois se transformou em Teoria do Gosto que é exatamente essa dimensão subjetiva da arte e do belo (David Hume e Emmanuel Kant), e que em seguida ficou conhecida/intitulada de Filosofia da Arte. Nesta, a Arte (belo na subjetividade humana), levará em conta uma outra dimensão fundamental para a formação subjetiva do belo no individuo, a saber, a questão social e cultural do individuo para  a formação subjetiva em si da arte. “Se o artista é tomado por um desejo de realização do Belo de acordo com sua interioridade, na qual um objeto se eleva ao paradigma de Beleza, é está beleza condicionada a este artista e ao seu contexto de produção”. E para apreender e entender essa criação é preciso participar ou conhecer os signos/símbolos/valores que a criação expressa, e nestes termos, o Belo criado (subjetividade do artista) precisa ser recriado ou ressignificado na subjetividade daquele que o contempla, tornando se bela em si ou para si (Hume, Kant).
Temos assim, que a expressão artística é universal, imortal e eterna. Temos que a Arte é o extraordinário no ordinário. A Arte é o transcendente no imanente, a realização do eu que transcende o eu, dando a esse eu um significado que ele não teria sem a exteriorização de si no mundo e interiorização de si no outro.
Na contemporaneidade, temos que a Arte, ainda com os atributos da modernidade, não é tão somente uma expressão do artista. A Arte agora é vista como Obra de Arte, e junto com o conceito “Obra” está que a Arte agora é um produto que precisa ser aceito, pois agora ela tem valor (preço) para além do valor subjetivo presente no artista ou naquele que a contempla. A Arte pós-moderna foi também transformada pelas concepções filosóficas de Schopenhauer, Nietzsche, Freud (psicologia) e Escola Crítica (Frankfurt)[1], que em linhas gerais significa que o Belo é uma questão de foro íntimo, como na modernidade, mas que agora esse foro íntimo está condicionado (ideologizado) as condições de sua formação ou de sua participação social, ou em outros termos, a Arte e o Belo estão condicionados a Cultura de Massas e a Indústria Cultural. A pergunta que precisa ser feita na pós-modernidade é se a arte do artista é uma expressão subjetiva (talento, imaginação, inspiração) do artista ou se é o uso de um talento qualquer para expressar em forma de “Arte” aquilo que já se espera ver, pois o que se espera ver também se pode facilmente vender. Arte como produção/fabricação industrializada.



[1] Cito aqui os autores ou tendências que me vêm a mente no momento. Há, certamente, muitos outros que estão de fora desta construção do pensar pós-moderno. Falar isso é a manifestação da pós-modernidade em mim.

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Os Meios de Comunicação de Massa e a Indústria Cultural

Os Meios de Comunicação de Massa e a Indústria Cultural

Os meios e formas de comunicação atingiram em nossos tempos o seu auge, e certamente atingirá picos impensáveis no futuro próximo. Nunca nos comunicamos tanto e de tantas maneiras, pode se falar que diminuímos a comunicação pessoal (física/presencial) com amigos e família, mas com a tecnologia ampliamos essa comunicação a condições, possibilidades e frequência nunca antes vista. Nestes termos temos que pensar a comunicação na sociedade tecnológica onde a comunicação pessoal fica subordinada ideologicamente a comunicação de massa.
A comunicação autêntica é aquela em que o emissor e o receptor das mensagens se encontram numa estrutura simétrica e de paridade, condição para que a comunicação seja mútua, permitindo ouvir o outro e ser ouvido. E, isso não acontece nos meios de comunicação de massa, pois estão estruturados de forma unilateral, num único sentido. Os meios de comunicação como a TV, jornal, rádio e internet tem um papel fundamental na formação das sociedades modernas como veículos de comunicação, divulgação e formação de hábitos de consumo, indução de comportamentos e divulgação de ideias e ideologias licitas e ilícitas.
A fronteira entre comunicação e comunicação de massa está em que na primeira há dialogo e na segunda há somente indução ideológica. Os filósofos da Escola de Frankfurt foram os primeiros que detectaram a dissolução das fronteiras entre informação, consumo, entretenimento, políticas e ideologias.
A Escola de Frankfurt é uma escola de teoria social interdisciplinar neomarxista que consistia em um grupo de intelectuais, que na primeira metade do século passado produziu um pensamento conhecido como Teoria Crítica. Dentre eles temos Theodor Adorno, Max Horkheimer, Herbert Marcuse e Walter Benjamim. Com a II Guerra Mundial, eles saíram de Frankfurt, na Alemanha, para se refugiar nos Estados Unidos.
Indústria Cultural, conceito elaborado pela Escola de Frankfurt, é semelhante a um sistema político e econômico que tem por finalidade produzir bens de cultura – filmes, livros, música popular, programas de TV, tendência alimentar, etc. A ideia central é que os meios de comunicação de massa, como TV, radio, jornais e portais da internet, são propriedades de algumas pessoas/empresas, que possuem interesse em obter lucros e manter o sistema econômico vigente, o que possibilita manter o lucro, criando a necessidade e produzindo o bem necessário para satisfazer a mesma. Nesse esquema as pessoas entram num processo de alienação, tendo outros como formadores do próprio pensar e querer, produzindo em si a própria cultura, como reflexo de uma indústria lucrativa.
A Industria Cultural[1] torna-se mecanismo de dominação política, Adorno e Horckeimer apontavam os meios de comunicação de massa (comunicação unilateral) como uma perversão dos ideais iluministas do século XVIII (para o Iluminismo, o  progresso da razão e da tecnologia iria libertar o homem das crenças mitológicas e supersticiosas). Mas, segundo esses autores, os meios de comunicação e a Industria cultural nas mãos de um poder econômico e político seriam empregados para impedir que as pessoas tomassem consciência de suas condições de alienação. Um trabalhador que em seu horário de lazer poderia (deveria) ler bons livros, ir ao teatro, concertos musicais (e usar o tempo por quem trabalham), tornando-se uma pessoa mais culta, questionadora e engajada politicamente. Ao contrário disso, chega em casa e senta-se à frente da TV para esquecer seus problemas, absorvendo mais dos mesmos valores que predominam em seu meio social. É desta forma que a indústria cultural, ao invés de cidadãos conscientes, propicia apenas consumidores passivos.
Na era do domínio tecnológico, falamos ainda de uma indústria cultural, e também de um “totalitarismo eletrônico”, no qual diversão e “assuntos importantes” são mixados num só produto. Numa era em que os aparatos tecnológicos fazem parte da rotina diária/social/cultural e se tornam uma necessidade primordial das pessoas, principalmente dos mais jovens, em sua existência/convivência. O que denota um claro processo de alienação, condicionamento de si há uma estrutura social de produção de divertimento e de condicionamentos de participação da mesma, uma vez mais, sem opção, sem escolha, sem liberdade. Claro que sempre há exceções.             





[1] Indústria Cultural é a exploração, com fins comerciais e econômicos, de bens considerados culturais.

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Positivismo

Positivismo

A Física Social, Auguste Comte, nasce como uma ciência com a função de identificar os problemas da sociedade e resolvê-los, sendo denominada de positivismo. O Positivismo é uma corrente filosófica que tem a razão como postulado do triunfo cientifico, a melhor humanidade está no encaminhamento da mesma para a ciência e o subsequente desenvolvimento, e tem como ideia chave o Progresso como subsequente produto desta prática  racional, positiva e cientifica.
“Amor, por principio, ordem, por base, e o progresso, por fim”. Sendo este o seu lema, o Positivismo se caracteriza como um pensamento teleológico, e no sentido apresentado por Comte, ele é uma teleologia evolutiva, pois segundo o mesmo a humanidade vai passando por fases (chamada por ele de idade) que se sucedem. A história caminha no sentido do progresso e evolução.
Idade Teológica => nela o homem explica os fenômenos atribuindo-os a seres ou forças que se equivalem aos próprios homens. Trata-se da infância da humanidade, marcada pelo pensamento mágico e fantasioso.
Idade Metafísica => nela o homem faz uso de entidades abstratas, ideias norteadores do existir. Trata-se de um avanço, pois as ideias substituem os deuses e desenvolve-se a abstração filosófica.
 Idade Positiva => é a em que homem renuncia a descobrir as causas dos fatos e busca conhecer/entender as leis que os governam, está é assim a etapa definitiva.
Nestes termos, a Física Social, filosofia cientifica formulada por Comte, tem objetivo central estudar os problemas sociais atacá-los e resolvê-los. A Física Social é fundada na ideia das ciências da natureza. Como a física conhece a natureza, a sociologia deveria conhecer aquilo que Comte chamava de as “leis imutáveis da vida social”, para, assim, identificar os problemas da sociedade e garantir uma ordem e o progresso em direção à etapa positiva (cientifica) da história.
O que é Positivismo?  Uma corrente de pensamento filosófico, sociológico e político que surgiu em meados do século XIX na França. A principal ideia do positivismo era a de que o conhecimento científico devia ser reconhecido como o único conhecimento verdadeiro. Segundo o positivismo, as superstições, religiões e demais ensinos teológicos devem ser ignorados, pois não colaboram para o desenvolvimento da humanidade. As primeiras ideias do que viria a ser o Positivismo surgiram como uma ramificação do Iluminismo, a partir das crises sociais que explodiram na Europa no fim da Idade Média e com a chamada "sociedade industrial", marcada pela Revolução Francesa. O termo "positivo" surgiu pela primeira vez na obra "Apelo aos Conservadores", de 1855, onde Comte descreve o significado da Lei dos Três Estados, ou seja, as etapas pela qual o ser humano passou (e passa) em relação as suas concepções e valorizações da vida: Teológico – Metafisico – Positivo.
Para Comte, as ciências que deveriam ser consideradas positivistas, pois estão baseadas apenas em análises e observações científicas, são elas a Matemática, a Física, a Astronomia, a Química, a Biologia e a Sociologia (Física Social), que havia sido recém criada e era estudada a partir de dados estatísticos.
O cerne do Positivismo: nele acredita-se que uma teoria só pode ser tida como verdadeira se for comprovada a partir de técnicas científicas válidas. Outra característica do pensamento positivista é a ideia de ciência cumulativa, transcultural, que atinge toda a humanidade, não importando em qual cultura surgiu ou se desenvolveu.
No Brasil o Positivismo teve uma presença muito forte e marcante. Sendo a França no século XVIII e XIX, a capital cultural do mundo, era tido como o lugar preferido para estudo e formação da elite brasileira. E lá estes foram influenciados, enormemente, pelos ideais iluministas. Os positivistas fundamentais no Brasil foram Benjamin Constant Botelho de Magalhães, considerado o proclamador da República e de Raimundo Teixeira Mendes, autor da bandeira nacional que tem o lema positivista “Ordem e Progresso”, que vem do pensamento-base de Auguste Comte: “O amor por princípio e a ordem como base, o progresso como meta”.
Positivistas brasileiros de grande peso são Nísia Floresta Augusta a primeira feminista brasileira e discípula direta de Auguste Comte; Miguel Lemos; Euclides da Cunha; Luis Pereira Barreto; O Marechal Cândido Rondon; Julio de Castilhos; Demétrio Ribeiro; Carlos Torres Gonçalves; Ivan Monteiro de Barros Lins; Roquete Pinto; Barbosa Lima; Lindolfo Collor; David Carneiro; David Carneiro Junior; João Perneta; Luís Hidelbrando Horta Barbosa; Julio Caetano Horta Barbosa; Alfredo de Moraes Filho; Henrique Batista da Silva Oliveira; Eduardo de Sá entre outros.
O positivismo e o Neo-positivismo tiveram grande impacto no Brasil, pois sem eles não teria havido República. Grandes nomes brasileiros da Filosofia Positivista veem em grandes personalidades como: Amoroso Costa; Euryalo Cannabrava; Edson Farah; Mario Turrasse Teixeira; Jorge Barbosa; Newilton Carneiro da Costa; Ayda Ignês Arruda; Mário Sette; Lafaiete de Moraes; Leônidas Hegenberg; José Arthur Gianotti; Oswaldo Porgat; Milton Vargas; Nelson Gomes;

Finalmente a personalidade de grande destaque e estudioso da filosofia positivista foi Getúlio Vargas, Presidente da República.

domingo, 16 de outubro de 2016

Estrutura do Pensamento Sociológico de Pierre Bourdieu

“Os circuitos de consagração social são tanto mais eficazes quanto maior a distância do objeto consagrado”

Estrutura do Pensamento Sociológico de Pierre Bourdieu

Certamente o sociólogo Pierre Bourdieu é um dos mais importantes sociólogos do século XX, e trouxe imensas colaborações para compreendermos nosso tempo atual, nossa sociedade atual. Ao mesmo tempo em que busca desmistificar muitos olhares totalizadores e determinadores de condições sociais como naturais por vias biológicas, de competências, de talentos natos e familiares. 
Uma busca central presente em sua obra é a sua superação da dicotomia entre subjetivismo e objetivismo no que tange o olhar sobre a sociedade. “Ele acreditava que qualquer uma dessas tendências, tomadas isoladamente, conduz a uma interpretação restrita ou mesmo equivocada da realidade social”. Para isso desenvolve sua teoria conceitual de habitus, que procura evitar essa tendência cientifica. Habitus se refere à incorporação de uma determinada estrutura social pelos indivíduos, influindo e condicionando seu modo de sentir, pensar e agir, de tal forma que se inclinam a confirmá-la e reproduzi-la, mesmo que quase sempre de modo inconsciente. No cerne do seu conceito de habitus está que os condicionamentos materiais e simbólicos agem sobre nós (sociedade e indivíduos) numa complexa relação de interdependência. Podemos até dizer que ele tem uma concepção relacional e sistêmica do social, ou seja, a estrutura social é vista como um sistema hierarquizado de poder e privilegio, determinado tanto pelas relações materiais e econômicas (salario, renda) como por relações simbólicas (status) e culturais (educação e escolarização) entre os indivíduos. Nesse sentido a diferença de localização e condição nessa estrutura social deriva da desigual distribuição de recursos e de poderes[1]. Nesse sentido a posição de privilégio ou não privilégio ocupada por um individuo ou um grupo, é definida de acordo com a quantidade e volume de capitais presentes na mesma em sua trajetória social. E é esse sistema social e cultural (de composição material, simbólica e cultural) presente no individuo, na sua formação, desde sempre ou assimilado no decorrer de sua história, que forma nele um habitus, que é um condicionamento mental, corporal, social e cultural.
Para ilustrar, em seu trabalho Anatomia do gosto, ele conclui que o mesmo não se trata de uma questão da esfera pessoal e sim coletiva, o que ele denomina de a produção do gosto cultural. O gosto e as práticas de cultural de cada um de nós são resultados de um feixe de condições específicas de socialização. É nesta análise, a história das experiências de vida dos grupos e indivíduos, que podemos apreender a composição de gosto presente nos mesmos. Esse capital cultural incorporado, determinante do gosto cultural, é uma dimensão do habitus de cada um, que é uma predisposição a gostar de determinados produtos da cultura, como filmes, livros ou música, como tendências desenvolvidas em cada um de nós, incorporada e que supõe uma interiorização e identificação com certas informações, saberes, estilos, lugares, comportamentos, alimentos, etc. nesse sentido, Bourdieu põe em discussão uma das maiores certezas da vivência social, a de que gosto não se discute. Ao contrario, gosto se discute sim, visto que não é ele uma propriedade inata dos indivíduos, visto que o gosto é produzido e é resultado de um feixe de condições materiais e simbólicas (os capitais) acumulados no percurso de nossa trajetória social e educacional. Nestes termos, o gosto que se adquire, é resultado de diferenças de origem e de oportunidades sociais, e deve ser pensado e entendido a partir de tal concepção. Perceber isso é importante porque os gostos são qualificados e classificados, nesse sentido perceber as distinções do gosto cultural é importante, porque eles revelam ou refletem uma diferença social, uma ordem injusta em que as diferenças de cultura são transubstanciadas em diferenças entre bom e mau gosto, sendo o bom gosto pertencente há uma classe e o mal há uma classe inferior ou antagônica. Tomemos como exemplo sua análise sobre a Educação.
“Nada é mais adequado que o exame para inspirar o reconhecimento dos veredictos escolares e das hierarquias sociais que eles legitimam”
Na educação todas as relações educativas e socializadoras são relações de comunicação. Isto é mensagem comunicativa, ou mais propriamente o conjunto de regras culturais disponibilizadas pela escola, sobretudo aquelas relativas às artes eruditas ou à cultura letrada que dependem da posse prévia de códigos de apreciação. A sensibilidade estética, a capacidade de assimilar e se identificar com um objeto artístico dependem fundamentalmente do acesso e, sobretudo, de um aprendizado prévio de códigos e instrumentos de apropriação, isto é, uma sensibilização anterior, normalmente conquistada no seio familiar. Em uma sociedade hierarquizada e injusta como a nossa, não são todas as famílias que possuem a bagagem culta e letrada para se apropriar e se identificar com os ensinamentos escolares. Dentre eles, os de origem social superior, terão certamente mais facilidade do que outros, pois já adquiriram parte desses ensinamentos em casa. Para Bourdieu, existiria uma aproximação e uma similaridade entre a cultura escolar e a cultura dos grupos sociais dominantes, pois estes há muitas gerações acumulam conhecimentos disponibilizados pela escola. Nesse sentido, o sistema de ensino que trata a todos igualmente, cobrando de todos o que só alguns detêm (a familiaridade com a cultura culta), não leva em consideração as diferenças de base determinadas pelas desigualdades de origem social. Ele detecta então um descompasso entre a competência cultural exigida e promovida pela escola e a competência cultural apreendida nas famílias dos segmentos mais populares. Em outros termos, o sistema escolar em vez de oferecer acesso democrático de uma competência cultural específica para todos, tende a reforçar as distinções de capital cultural de seu público. E assim, o sistema escolar limitaria o acesso e o pleno aproveitamento dos indivíduos pertencentes às famílias menos escolarizadas, pois cobraria deles os que eles não têm, um conhecimento cultural anterior necessário para se realizar a contento o processo de transmissão de uma cultura culta. Essa cobrança escolar foi denominada por ele como uma violência simbólica, pois imporia o reconhecimento e a legitimidade de uma única forma de cultura, desconsiderando e inferiorizando a cultura dos segmentos populares. E nesta ótica podemos entender que essa violência simbólica significa a exclusão social de quaisquer outros termos não correspondente há uma cultural especifica e seus capitais (econômic0, social, escolar), o que desvela a meritocracia educacional como uma falácia presente ainda hoje nos sistemas de avaliação (Enem, Vestibular).
“Não há democracia efetiva sem um verdadeiro poder crítico”
Sobre a vivência em sociedade Bourdieu vai apontar a limitação cultural (capital de pertencimento ou de posse) como um delimitador da condição de atuação social, política e democrática de um indivíduo. Por exemplo, a condição da mulher na sociedade, ou a violência contra ela tão comum na história e na maior parte das sociedades e culturas. Segundo ele, essa dominação masculina se mantém não só pela preservação de mecanismos sociais (machistas), mas pela absorção involuntária, por parte das mulheres, de um discurso conciliador, machista e opressor. Na formação do habitus[2], a produção simbólica – resultado das elaborações em áreas como arte, ciência, religião e moral – constitui o vetor principal, porque recria as desigualdades de modo indireto, escamoteando hierarquias e constrangimentos. Todas as ferramentas de poder são essencialmente arbitrárias e masculinizadas, mas isso não costuma ser percebido. É necessário que os dominados, neste caso as mulheres, as percebam como legítimas justas e dignas de serem utilizadas. Nestes termos, a violência contra a mulher é tão comum em nossa sociedade porque a mesma é legitimada pela própria condição de socialização da mulher nas estruturas sociais. A violência contra a mulher é comum e presente desde a infância mais primeva. A fragilização do ser feminino e as restrições físicas, sociais e psíquicas são uma estruturação social de uma condição de subordinação e naturalização (habitus) da opressão e inferioridade de seu ser.
Ampliando a questão, as estruturas sociais serão legitimadoras das condições que legitimam a condição de quem já está legitimado socialmente no poder. O que significa que a construção social e teórica, elaborada pelos legitimados para isso, será de reforçar a condição dos legitimados, ou seja, socialmente todos irão estudar e trabalhar para ser um legitimado e se tornar mais um legitimador dessa condição social (também chamada de violência simbólica, por Bourdieu).
Em síntese, com os instrumentos teóricos que criou, Bourdieu afastou de suas análises a ênfase central nos fatores econômicos – que caracteriza o marxismo – e introduziu, para se referir ao controle de um estrato social sobre outro, o conceito de violência simbólica, legitimador da dominação e posto em prática por meio de estilos de vida. Isso explicaria por que é tão difícil alterar certos padrões sociais. O poder exercido em campos[3] como a linguagem, por exemplo,  é mais eficiente e sutil do que o uso da força física propriamente dita.





[1] Recursos e poderes diz respeito ao capital econômico (renda, salários, imóveis), o capital cultural (saberes e conhecimentos reconhecidos por diplomas e títulos), o capital social (relações sociais que podem ser revertidas em capital) e também o capital simbólico (prestigio e honra)
[2] Saberes inscritos no ser social e culturalmente sem uma consciência dessa inscrição e que tem força preponderante, visto que é saber que vira carne, saber corporificado.
[3] Campos sociais é a divisão da sociedade em áreas de poder que tem forte atuação dentro de suas estruturas, acadêmico, econômico, médico, militar, politico e outros. 

domingo, 2 de outubro de 2016

Filosofia Política

Filosofia Política

Desde os primórdios da filosofia e em suas subsequentes fases históricas e filosóficas, a mesma sempre se ocupou de entender em como é, e porque é como é a relação humana em sociedade. desde as mitologias, pensamentos pré-socráticos e socráticos, a Democracia Ateniense, a República de Platão, ou A Política de Aristóteles, Cidade de Deus e Cidade dos Homens de Santo Agostinho, O Príncipe de Maquiavel, O Leviatã de Thomas Hobbes, os Dois tratados sobre o Governo de John Locke, O Discurso sobre a Origem e os Fundamentos das Desigualdades de Jean Jacques Rosseau, a Crítica da Razão Prática e Fundamentação da Metafísica dos Costumes de Immanuel Kant, Manifesto Comunista e o Capital de Karl Marx. Daqui em diante muito se falara da política e da vida em sociedade e de como melhor realiza-la, contudo a filosofia deixa de ser a ciência representativa desse pensamento, a partir de Auguste Comte e sua filosofia social que se transformará em uma nova área de estudo, a Sociologia.
A Filosofia Política pensar sempre a questão da convivência humana, fazendo esse pensar sempre tendo como fundo a gênese dessa convivência, seu desenvolvimento, sua atualidade (autor) e sua projeção/perspectiva para o futuro.  Nestes termos, se dividirmos a história da filosofia em modelos filosóficos perceberemos uma tendência racional filosófica para a política presente dentro desses modelos.

Filosofia Política Grega (zoôn politikon)
Polis Grega – A Política – A República.

Filosofia Política Medieval (Cristã)
Santo Agostinho – Tomas de Aquino

Filosofia Política Moderna
Contratualista (Hobbes, Locke, Rousseau)
Classista/Econômica (Engels e Marx)


Texto clássico

Leviatã=> Thomas Hobbes (1588-1679)
É certo que algumas criaturas vivas, como as abelhas e as formigas, vivem em sociedade (e por isso são inclusas por Aristóteles entre as criaturas políticas), mas não são regidas senão por seus juízos e apetites particulares, não dispondo da linguagem por meio da qual uma possa indicar à outra aquilo que acredita ser vantajoso para o bem comum. Assim, talvez, alguns desejem saber por que o gênero humano não pode fazer o mesmo. Ao que respondo:
Em primeiro lugar, os homens estão em continua competição pela honra e pela dignidade, o que não ocorre entre essas criaturas; consequentemente, surgem entre os homens inveja, ódio e, por fim, a guerra; entre as criaturas não é assim.
Em segundo lugar, entre as criaturas o bem comum não se distingue do bem individual, mas, sendo, por natureza, inclinadas a buscar o seu bem individual, acabam por alcançar o bem comum. Mas, para os homens, a felicidade consiste em comparar-se com os outros homens...
Em terceiro lugar, não possuindo essas criaturas (ao contrário do homem) o uso da razão, não veem nem pensam ver qualquer culpa na administração dos seus negócios comuns, ao passo que, entre os homens, existem muitos que se julgam mais sábios e capazes que os outros para governar a coisa publica; e se esforçam para reformar e inovar as formas diferentes, o que acaba por leva-los à divisão e à guerra civil.
Em quarto lugar, essa criaturas irracionais, mesmo fazendo um certo uso da voz para comunicar entre si os seus desejos e as suas predileções, sao desprovidos da arte da linguagem, mediante a qual alguns homens podem representar aos demais o que é o bem sob a aparência do mal e o que é o mal sob a aparência do bem, aumentando ou diminuindo a aparente dimensão do bem e do , provocando descontentamento entre os homens e abalando sua paz e seu bel-prazer.
Em quinto lugar, as criaturas irracionais não são capazes de distinguir injúria e dano; portanto, desde que se sintam à vontade, não se sentem ofendidas pelas suas companheiras, ao passo que o homem é tanto mais turbulento quanto mais se sente à vontade; é justamente neste caso que gosta de exibir a sua sabedoria e censurar as ações daqueles que governam o Estado.

Finalmente, o acordo que se produz entre as criaturas é natural, enquanto o acordo entre os homens é apenas pactual, ou seja, artificial, portanto, não é surpreendente que (além do pacto) exijam algumas coisas uns dos outros para tornar o acordo constante e duradouro – ou seja, um poder comum que se constranja e dirija as suas ações para um beneficio comum. 

Movimento Sociais e Cidadania

Movimentos Sociais e Cidadania

Movimentos Sociais é uma expressão que engloba a organização de pessoas e entidades da sociedade civil com a finalidade de defender interesses políticos, econômicos, humanitários, éticos, ambientais, etc.
No cerne dos movimentos sociais está que o governo é composto pela elite, e naturalmente, representa a elite e seus interesses. Assim, seu objetivo tem como pretensão a busca de igualdade – na desigual distribuição de riqueza – de direitos entre governantes e governados. A sociedade civil encontra nesses movimentos voz politica e pode por meio dos mesmos ampliar sua intervenção social sobre o Estado.
Movimentos Sociais são ações coletivas de caráter contestatório que visam expor as contradições sociais, temporais e sociais. Tem por foco central o fortalecimento de valores democráticos. São movimentos resultantes da incapacidade governamental e política de atender a uma parcela da população que esses movimentos representam.
Ao longo da história temos importantíssimos movimentos que foram fundamentais, direta ou indiretamente, para esses acontecimentos históricos:
Revolução Francesa 1789 – Revolução Russa 1791 – Greve Geral de São Paulo de 1917 – Luta pelos direitos dos negros (EUA) 1960 – Diretas Já 1984 – Queda do muro de Berlim 1989 – Parada Gay – Primavera Árabe – Movimentos 2013.

Cidadania

Cidadão é o individuo que, como membro de um Estado, usufrui de direitos civis e políticos, por este garantidos, e desempenha os deveres que, nesta condição, lhe são atribuídos. Então a cidadania está em que o mesmo tem validade somente quando há um sujeito de direito exercendo o direito. Não está o direito vetado de quem não o conhece (constituição 1988), é um cidadão com plenos direitos como qualquer outro, contudo não tem a menor ideia, noção ou condição de exercê-lo. O mesmo raciocínio se aplica para com os deveres. Não saber os deveres de cidadão não desobriga de corresponder a eles, isto está na razão direta da existência do Estado (Hobbes e Locke).
Na Republica Federativa do Brasil temos as seguintes disposições legislativas para funcionamento da mesma em âmbito federal, estadual e municipal nas esferas do legislativo, executivo e judiciário.

·        Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988
·        Constituição do Estado de São Paulo[1] de 1989
·        Lei orgânica de São Paulo[2]

Eleições
Vereador e Prefeito – Lei Orgânica – responsáveis pela educação, saúde, transportes, segurança (GCM), serviços na esfera municipal.
Deputado Estadual e Governador – Constituição do Estado – Educação, saúde, transportes, segurança (PM), serviços na esfera estadual.
Deputado Federal – Constituição Federal – representante da população do estado em que foi eleito.
Senador – Constituição Federal – representante do Estado (constituição estadual ó constituição federal)
Ministros – Constituição Federal – ministérios ou pastas
Presidente –Constituição Federal – é o chefe de Estado e do Governo da República Federativa do Brasil

Vocês votarão melhor do que seus pais => Conhecimento é poder decisório.
Uma lei qualquer para entrar em vigor em âmbito nacional precisa de 2 casas – 2 turnos – 2/3 de votos.


[1] Cada estado da republica federativa constituiu sua própria constituição de funcionamento, estando está em consonância com a constituição federal.
[2] Cada município da republica federativa constitui sua lei orgânica de funcionamento, estando está em consonância com a constituição do Estado que faz parte e com a constituição federal.

Ideologia e Utopia

Ideologia e Utopia - Perspectiva Sociológica
Em seu livro “Ideologia e Utopia”, Karl Manheim, aplica essa sua teoria sociológica. Fazendo uma investigação das estruturas histórico sociais e politicas, ele apresenta a disputa do poder e do bem estar social, sempre presentes em qualquer sociedade. Disputa essa que gera movimentos utópicos e ideológicos que se sucedem e se submetem no decorrer da história.
Apesar de haver um aparente sinonismo entre ideologia e utopia, Manheim entende que elas tem objetivos antagônicos e usos opostos. No plano social, as ideologias são concebidas como valores e ideias que legitimam e mantêm o status quo. Já as utopias são ideologias contestatórias, revolucionárias que buscam a construção do “não existente” a partir da negação do existente. O liberalismo (Revolução Francesa) foi revolucionário e, portanto utópico. Mas tão logo derrotou o feudalismo e conquistou seu espaço, tornou-se uma ideologia conservadora e perdeu seus traços utópicos. E, não podia ser diferente, pois se a burguesia levasse até as últimas consequências o seu lema “Igualdade, Liberdade e Fraternidade”, teria que negar a si própria e abrir mão de sua conquista. E como é óbvio, nenhuma classe social comete suicídio político. Assim, “os revolucionários de hoje  são os conservadores de amanhã”.
Ideologia e Utopia são distinguidos pela relação que mantêm com a ordem social existente. As duas se apresentam como ideologias (conjuntos de ideias norteadores do agir), uma é real/existente (ideologia) e a outra (utopia) visa suplantar a ideologia existente para se fazer existente. É disputa ideológica em que a violência, física, psíquica,  emocional, são, historicamente, inevitáveis.
Outro fator presente nesses conceitos de ideologia e utopia, é o de que ambas precisam ocultar o real para suplantar sobre o mesmo a si mesma. A Ideologia obscurece a consciência daqueles que dela participam para que não percebam sua dominação e exploração, e mais que isso, para que não acreditem  que poderia ser diferente, ou que se fosse diferente seria melhor. Já a Utopia, que busca mudar a situação existente, não pode se permitir fazer um real diagnostico da situação, pois seu objetivo é negar o mesmo para criar um novo real. Assim,  a mentalidade utópica faz uma representação tendencial, objetivada para sua ação, e que para isso precisa ocultar determinados aspectos da realidade. Ignora tudo que possa abalar sua crença e desejo de mudar as coisas.
Utopia e Ideologia são distinguidas pela relação que mantêm com a ordem social existente. Para que as ideias desempenhem um papel utópico, é necessário que não apenas transcendam a ordem, mas que se incorporem nos grupos sociais oprimidos e capazes de revolucionar a ordem. Enquanto que as ideologias existentes buscam reforçar a importância, qualidade, valor da ordem existente. 

                               

A Sociologia do Conhecimento

A Sociologia do Conhecimento
A temática, Sociologia do Conhecimento, tem como proposição e estudo, a análise e a gênese do saber, ou, uma gênese do saber intelectual numa perspectiva social.  Porque cabe a essa ciência, assim como as outras, compreender a formação humana e as condições que levaram a essa formação específica mediante tantas outras possíveis, e assim como fez a filosofia e faz a psicologia, a sociologia quer também desvendar e entender o humano, só que no seu caso tendo como matriz a sociedade a que esse humano pertence.
Nesse ponto temos que para a sociologia (construída por Max Scheler, Karl Mannheim, Alfred Schultz, Peter Berger e Tomas Luckman) toda produção de conhecimento não resulta apenas da consciência puramente teórica, mas principalmente de elementos de natureza não teórica, elementos provenientes da vida social e das influências e vontades a que o produtor, e sua realidade social, lhe impõem.
Trata-se do pressuposto da determinação histórica-social do conhecimento, pois o  conhecimento, pois o conhecimento não é retrato da realidade, mas interpretação. Essa é a meta da Sociologia do Conhecimento, expor e considerar as influencias culturais de contexto, que estão presentes nas teorias.

Os saberes não são frutos de inspirações transcendentes ou aspirações cognitivas (não se nega que possam ser), visto que os saberes têm formas, conteúdo, intenção, ideologia, e assim não se desenvolvem no vácuo social. Colocado nestes termos, Manheim, postula que o pensamento social não pode explicar (não tem recurso subjetivo) a vida humana, mas apenas expressá-la. O objetivo do sociólogo é o de compreender o que as pessoas pensam sobre, e a partir, da sociedade. Ora, se o saber não é um construto teórico, “a teoria não pode existir apenas pela teoria”, estudar a gênese do conhecimento é a base para aprimoramento do próprio saber, e é o meio mais viável para regenerar a sociedade e o homem/mulher dos efeitos perversos que vêm embutidos no processo de racionalização e negação dos aspectos humanos essenciais. O conhecimento é construído, e o conhecimento dominante ou oficial, tem sempre um imanente conteúdo político (ideologia de elite e educadores de elite).